África pede socorro ao Brasil contra praga e africanos visitarão a Embrapa em Sete Lagoas

Trabalhadora rural debulha milho em plantação no Zimbabwe, na África – João Silva – 25.abr.2016/The New York Times

Encontrada em 1797 em lavouras dos Estados Unidos, uma lagarta que se alimenta de pelo menos 80 diferentes plantas continua tirando o sono dos produtores pelo mundo afora.

Presente nas Américas, na Europa e na Ásia, a praga, denominada lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), vinha poupando a África.

Em 2016 foi encontrada na Nigéria e, a partir daí, não para de avançar pelo continente. Já são 34 países afetados.

A presença dessa lagarta traz sérios problemas para os produtores de milho do continente. Sem conhecimento de como e com que combater o inimigo, os africanos pedem ajuda ao Brasil, que já trava uma longa batalha contra esse inseto.

O Brasil é o país ideal para auxiliar a África. Aqui se desenvolve uma série de tecnologias apropriadas para a agricultura tropical, também praticada pelos africanos.

Se não for combatida adequadamente, a lagarta poderá causar uma perda de até 21 milhões de toneladas de milho e prejuízos de US$ 6,5 bilhões aos africanos por ano, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).

PREJUÍZO

Os produtores brasileiros sabem muito bem o que a chegada inesperada de uma praga pode provocar. Há cinco anos, um outro tipo de lagarta, a Helicoverpa armigera, apareceu no Brasil e se alastrou por várias culturas.

Sem um produto adequado para o combate inicial da praga, o produtor brasileiro teve enorme prejuízo, principalmente na lavoura de soja.

“A lagarta do cartucho do milho, quando aparece, é um casamento sem divórcio para o produtor. Ela fica para sempre”. A frase é de Antônio Álvaro Purcino, chefe da área de Milho e Sorgo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), e aponta o problema que os africanos vão ter de enfrentar a partir de agora.

Em busca de soluções, uma comitiva com 24 pessoas, procedentes de 11 países africanos, estará no Brasil na última semana deste mês.

Os visitantes vão manter contatos, em Brasília, com a ABC (Agência Brasileira de Cooperação) e com a Embrapa, entidades que, junto com a Usaid (agência dos EUA para desenvolvimento internacional), assinaram um protocolo de intenção de transferência de conhecimento para os africanos.

Segundo Purcino, o objetivo é mostrar aos africanos o cardápio de opções para o combate da praga e meios de convivência com ela.

A lista é grande e cada país deverá adotar a solução que julgar mais adequada. Na Embrapa, responsável por oferecer soluções para o combate à praga, os africanos vão conhecer várias tecnologias, entre elas os inseticidas biológicos, os à base de vírus e os biopesticidas. Eles visitarão a unidade Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (MG) de 27 a 29 deste mês.

O chefe da Embrapa Milho e Sorgo alerta, no entanto, que o desafio não é apenas o de combater a lagarta.

É necessário que os governos africanos desenvolvam políticas públicas que permitam ao produtor elevar a produtividade e a rentabilidade. Com isso, eles vão investir mais na produção. João Almino de Souza Filho, embaixador e diretor da ABC, diz que “o Brasil precisa compartilhar dessa experiência porque uma das preocupações com o avanço da praga na África é com a segurança alimentar e nutricional.”

O Brasil é referência nesse setor e um dos países que têm as melhores tecnologias para auxiliar os africanos. A participação do país é importante porque “oferecemos cooperação, conhecemos melhor o problema, testamos nossos métodos e nossas equipes e tomamos contato com outra realidade”, diz ele.

Os Estados Unidos participam por meio da Usaid, agência que propiciará recursos para o desenvolvimento desse programa de combate à lagarta do cartucho.

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