“Infelizmente, ainda é uma prática muito comum as pessoas deixarem para lá o animal quando pegam desgosto. Também tem casos de vizinhos incomodados com o barulho que o bicho faz, e muitos começam a jogar veneno e a praticar atos de crueldade”, afirma o delegado Luiz Otavio Braga, da Delegacia Especializada em Investigação de Crime Contra a Fauna. Entre as ocorrências que chegam à delegacia, são frequentes casos de negligência, notada, por exemplo, quando o bicho fica em ambiente sujo ou recebe alimentação inadequada, além de envenenamento e de acumuladores de animais que não conseguem manter os bichos. As agressões são minoria.
Apesar do aumento de casos no Estado, em Belo Horizonte os registros de abuso e maus-tratos contra animais caiu no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2017, de 71 para 64. Segundo o delegado, isso ocorre muito porque as pessoas estão mais conscientes sobre o fato de a prática ser crime nos grandes centros urbanos. “Mas, infelizmente, até nós estabelecermos que eles são seres vivos iguais a nós, isso continua”, afirma. Ele explica que a pena para o crime é de detenção de três meses a um ano e multa.
O delegado ressalta a importância de a população denunciar os crimes para que a investigação possa ser realizada. “A denúncia é fundamental, porque, na maior parte das vezes, é a população que pede nosso atendimento. Nós não estamos o tempo todo na rua, não estamos vendo tudo, então é esse chamado que vai fazer com que os órgãos policiais possam agir”, diz.
O registro das ocorrências pode ser feito em delegacias ou em unidades da Polícia Militar. Além disso, os casos podem ser denunciados de forma anônima por meio do Disque-Denúncia 181.
Proteção
Ajuda. A renda obtida com a venda do livro “Só de Bicho”, dos escritores Laura Medioli e Fernando Fabbrini, é destinada a organizações de proteção animal. Mais de R$ 50 mil já foram doados.
Fomentar a defesa é objetivo
O 1º Seminário de Defesa Animal e Bioética discutiu também o bem-estar de animais silvestres, a relação dos humanos com os bichos e o papel do poder público no cuidado dos animais. “O objetivo é levar informação para nós, amantes e defensores dos animais, mas, sobretudo, que possamos juntos, cada um com sua experiência, fomentar a defesa e a proteção dos animais”, afirmou o deputado Fred Costa (PEN), organizador do evento junto com o Coletivo Quatro Patas.
A escritora e protetora dos animais Laura Medioli foi uma das palestrantes do seminário e falou sobre a relação de amor que ela tem com os animais, que começou na infância: na casa dela, havia bichos das mais variadas espécies, como cavalos, araras, macacos e até jacarés. Ela ainda destacou a importância dos animais, sobretudo cachorros, para a formação das crianças. “Elas vão ter a questão da responsabilidade. É um amor tão incondicional, amizade, carinho, os cães despertam sentimentos bons”, diz.
Já a médica veterinária e vereadora em Conselheiro Lafaiete, na região Central, Carla Sassi, falou sobre a experiência da cidade na parceria entre poder público e ONGs protetoras de animais.
“Durante muitos anos, as ONGs vêm assumindo um papel que não é delas por causa da inércia do poder público. O que nós vemos são protetores endividados, com casas lotadas de animais, o tempo todo sendo cobrados pela sociedade como se aquilo fosse obrigação deles. A gente tenta que os protetores se politizem e atuem de forma mais técnica. Não é um trabalho caro, é trabalhoso, mas passível de ser feito”, pontua.