Sete-lagoano Marcelo sai do futebol feminino para fazer transição de gênero e sonha jogar no masculino

Bruno Teixeira/ Ag. Corinthians

Em setembro de 2019, o Corinthians oficializou a saída da atacante Marcela. Por meio de nota oficial, o clube comunicou que a atleta resolveu sair para resolver problemas pessoais. Somente neste fim de janeiro, o motivo foi detalhado pela própria jogadora, que passou pela maior transformação de sua vida.

No Dia Nacional da Visibilidade Trans, Marcela, natura de Sete Lagoas, se apresentou oficialmente como Marcelo. Sofrendo com problemas de depressão e tendo de consultar psicólogos com frequência desde 2015, quando soube da possibilidade de mudança de sexo, o jogador decidiu iniciar os tratamentos em agosto de 2019, quando comunicou sua decisão ao Timão.

“A decisão pegou todos de surpresa. Hoje, é libertador poder falar sobre isso, mas o primeiro mês foi devastador.Eu só sentia tristeza. Mas não queria que continuassem vendo uma menina jogar. Na semana que vem, faço a minha quinta sessão de hormonização. Ainda não tenho pelos no rosto, mas minha voz já mudou. Estou ficando mais forte e cheio de esperança. Para não perder a forma, faço academia, crossfit e jogo futebol com os amigos duas vezes por semana”, pontuou, em carta emocionante publicada no GloboEsporte.com.

No relato, Marcelo conta como foi difícil lidar com seu corpo desde a infância, quando já não se via como uma menina. O futebol, porém, adiou sua decisão de passar pela metamorfose, palavra que chegou a tatuar na mão direita.

“O que seria de mim se gritasse para o mundo que eu não sou o que você vê? O que seria de mim se abandonasse o futebol feminino?”, se pergunta em trecho do texto, relembrando seu melhor momento recente, quando foi campeã brasileira com o Timão, em 2018.

Antes mesmo de erguer a taça, porém, Marcelo já tinha enfrentado o pior da depressão, chegando a ser internado pelas “dores invisíveis” que sentia. Estava preso em um corpo que não era seu. Agora, se sente livre e sonha em continuar a carreira, mesmo aos 31 anos, no futebol masculino.

“Estou em casa, estou em paz. E pronto para continuar sonhando. Se tiver que voltar para o futebol, que seja no masculino. Quem sabe eu não serei o primeiro a abrir essa barreira? Por enquanto, só quero que todos saibam que eu não desisti de nada. Meu nome é Marcelo, e minha vida está apenas começando”, concluiu.

Entre 2018 e 2019, ainda no futebol feminino, Marcelo fez 33 jogos pelo Corinthians e marcou dez gols.

Oficialmente, cabe ressaltar, não há qualquer determinação oficial sobre a possibilidade ou não de um transexual jogar futebol profissionalmente. Por isso, a FIFA garante estar preparada para analisar caso a caso, levando em conta os níveis de hormônio e histórico médico, como informou o GloboEsporte.com. A CBF, por sua vez, diz que seguirá os passos da entidade responsável pela modalidade.

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