Clientes da Caixa Econômica Federal que foram vítimas do golpe aplicado em suas contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) Emergencial enfrentam dificuldades para reaver o dinheiro. A instituição bancária tem rejeitado sistematicamente o ressarcimento aos que contestam a retirada irregular de recursos do FGTS. E não há explicações sobre a decisão no comunicado que formaliza a negativa.
A resposta que a Caixa tem dado individualmente às vítimas é padronizada: “…Informamos que o processo em questão foi finalizado, não indicando ressarcimento ao cliente. (….) Esclarecemos que a conclusão acima decorre da aplicação de critérios técnicos de análise de transações financeiras eletrônicas, que são restritos às áreas de segurança da Caixa e à Polícia Federal, devido ao sigilo desses critérios e para resguardar o sistema bancário”, diz o texto da conclusão de um dos processos a que a reportagem teve acesso.
O golpe, que foi divulgado no fim de setembro, funciona da seguinte forma: os fraudadores se cadastram no aplicativo Caixa Tem – poupança digital da instituição criada para que os trabalhadores movimentem o dinheiro do FGTS – no lugar dos verdadeiros titulares, criando um novo e-mail e utilizando os dados das vítimas. Elas só percebem que foram lesadas ao ver o sistema acusar um cadastro já feito naquele CPF.
“Fui na Caixa nesse primeiro atendimento e me perguntaram se era o meu e-mail. Disse que não. Eles falaram que tinha um telefone cadastrado com o DDD 88 (estado do Ceará), sendo que o meu DDD é 31. Até falaram que iriam deixar porque ajudaria na investigação. Não eram os meus dados. O dinheiro foi retirado da conta via pagamento para uma transportadora e um boleto de bancos digitais. Foi um débito de R$ 1 mil e outro de R$ 45”, diz.
“Isso é golpe dentro do golpe”
A própria Caixa, em nota enviada ao Estado de Minas, admite que não tem informado aos clientes as razões para negar o ressarcimento. “Por motivos de segurança, os dados de contestações e os critérios técnicos de análise de suspeitas de fraude não podem ser expostos ao público em geral, mas apenas aos órgãos policiais envolvidos nas investigações”.
A instituição afirma ainda na nota que “em caso de negativa do pedido, poderá ser solicitada a reanálise na agência” e que trabalha em parceria com a Polícia Federal e demais órgãos de segurança pública na identificação de casos suspeitos e na prevenção das fraudes no pagamento do FGTS Emergencial e demais benefícios sociais.
Insegurança
Assim como outras vítimas de golpe do FGTS ouvidas em reportagens anteriores pelo EM, a contadora Stefanie Silva questiona os métodos utilizados pela Caixa em liberar a parcela de R$ 1.045 do FGTS ao trabalhador. Ela destaca que não havia pedido a disponibilização do dinheiro e que, por ter uma conta aberta no mesmo banco, já havia dados dela disponíveis no sistema, diferentes dos que foram informados pelos fraudadores.
“A Caixa abre uma conta e tira o dinheiro que você não pediu, disponibilizam uma conta que você não abriu, que ela abriu e deixa lá à disposição. Eu tenho conta na Caixa. Se for por questão de validar dados, dá para ver que meu e-mail de cadastro não é esse, que o meu telefone não é esse. O meu endereço estava certo”, conta.
Para Stefanie, a amplitude da fraude deve ganhar proporções ainda maiores, uma vez que boa parte da população ainda desconhece a disponibilização do FGTS Emergencial. “Pelo visto, a Caixa está indeferindo todos os pedidos. Uma insegurança total. Ok, foram R$ 1 mil, mas poderiam ter sido R$ 10 mil do meu FGTS retirados sem minha autorização, deixando disponível sem nenhuma segurança, sem nada. Conversando com outras pessoas que também foram fraudadas, você vê que ninguém conseguiu restituição. Então, que investigação é essa?”, questiona.
Mais queixas no MPF
O Ministério Público Federal está analisando sete queixas de pessoas que foram vítimas do golpe do FGTS Emergencial. Um dos casos já foi repassado à Polícia Federal para instauração de inquérito e as outras reclamações estão sendo analisadas. O MPF orienta todos os que se sentirem lesados a fazer a denúncia no órgão. Para tanto, basta acessar o site do Sistema Cidadão e preencher o formulário.