Celso conta que, em abril, depois de finalizar um ciclo de quimioterapia em um hospital, o garoto desmaiou em casa. Depois de ser levado às pressas para o hospital Mater Dei, o advogado descobriu que o menino tinha apenas 40% de oxigenação no sangue – abaixo dos 94% já exige atenção.
Os médicos levaram-no para a UTI Covid-19 ainda antes do diagnóstico, mesmo sob os protestos de Celso. “Ele não tinha febre, não tinha qualquer sintoma”, lembra. Mas a baixíssima saturação de Vinícius exigia o protocolo, e o adolescente foi intubado logo na primeira noite de internação. Durante oito dias, e estando semi-sedado, ele respirou com a ajuda de um ventilador.
Terminado esse tempo, mais um baque: Vinícius sofreu uma parada cardiorrespiratória. “Foi doído”, conta Celso sem conter as lágrimas. Depois de realizar uma manobra que trouxe o adolescente de volta à vida, os médicos chamaram o advogado para dizer que o pulmão do garoto não aguentava mais e que era hora de usar a ECMO – sigla em inglês para Oxigenação por Membrana Extracorpórea, que funciona como uma espécie de pulmão artificial quando o órgão está prestes a perder suas funções.
Tratamento
Ao ouvir o termo, Celso logo se lembrou de Paulo Gustavo, que foi submetido ao tratamento depois de contrair a Covid-19. O ator morreu em 4 de maio deste ano, depois de lutar contra a doença por mais de 50 dias. O advogado levou um susto, mas foi confortado pela cardiologista pediátrica da Rede Mater Dei e diretora da ECMO Minas, Marina Fantini.
“Tivemos uma equipe da CTI pediátrica muito atenta a todas as mudanças clínicas que o paciente apresentava. O Vinícius entrou na terapia de forma precoce, sem que o pulmão estivesse totalmente comprometido e a participação dele foi fundamental. O paciente entendeu o que estava acontecendo e contribuiu com o tratamento”, afirma a médica.
Sobre entender o que estava acontecendo, a especialista foi literal. Vinicius passou por todo o tratamento acordado e, apenas duas horas depois de ter sido submetido à ECMO, o adolescente já viu sua gasometria voltar aos índices considerados normais para o alívio de todo.
“A equipe foi tão bacana e cuidou tão bem da gente”, agradece Celso que se lembra de um caso curioso. Depois de ver o paciente estabilizado, a médica Marina autorizou que o menino pudesse escolher algo para comer, e “ele quis Fandangos”, recorda Celso com um sorriso. Nesse ínterim, o jovem conseguiu realizar outras atividades também, como escovar os dentes.
Passados os dez dias, e com melhora sistemática das funções do pulmão acompanhado diariamente com raio-x, Vinícius pôde, enfim, sair da ECMO. O coordenador da UTI pediátrica do Hospital Mater Dei Contorno, Luís Fernando Andrade de Carvalho, explica que a técnica da terapia extracorpórea é semelhante em adultos e em crianças.
“O que difere é o tamanho das cânulas utilizadas e os parâmetros. O acompanhamento de equipe especializada em ECMO e da equipe de intensivistas pediátricos é fundamental para reduzir as complicações da terapia e aumentar as possibilidades de sucesso. A utilização da ECMO nesse paciente ainda teve um fator de maior sucesso que foi a possibilidade de mantê-lo fora da ventilação mecânica e acordado, utilizando a ECMO e aguardando a melhora do quadro pulmonar.”
Recuperação
Vinicíus passou mais três meses no hospital para se recuperar completamente. E hoje, além do seu aniversário, ele e a família tem mais um motivo para comemorar. Depois de passar por uma cirurgia invasiva em janeiro deste ano porque o tumor o tronco encefálico e travar uma árdua luta contra a Covid-19, ele recebeu alta da quimioterapia nesta semana.
Celso ainda está em dúvida sobre sua organização do dia, já que sua rotina consistia em acordar às 6h e acompanhar o garoto durante todo o dia nas sessões de quimioterapia, mas de uma coisa tem certeza: está mais feliz do que nunca com a recuperação do filho.