Para a mãe da engenheira Laura Fernandes Costa, de 31 anos, este domingo (12 de maio) será marcado para sempre como o pior Dia das Mães de sua vida. Ansiosa para se casar em setembro deste ano, a moradora de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, procurou um médico na capital mineira para colocação de um balão intragástrico – dispositivo de emagrecimento – para perder 8 kg até a cerimônia que não acontecerá mais. No último dia 7 de maio, Laura morreu após ser constatada uma perfuração no estômago seguida de uma série de outras complicações.
Indignados após a partida precoce da mulher, a família de Laura registrou um Boletim de Ocorrência contra o gastroenterologista, que tem mais de 120 mil seguidores nas redes sociais e conta, inclusive, com publicidades feitas por uma famosa influencer de BH com mais de 4 milhões de seguidores.
Cunhada da engenheira, Ana Júlia Turchete Aranda, de 22 anos, conta que o procedimento foi realizado no último dia 26 de abril em uma clínica do profissional localizada na região do Barreiro, em BH. “Desde a colocação do balão ela estava se sentindo mal, mas, como avisaram que seria normal algum mal estar, ela só voltou na clínica três dias depois, após ela vomitar sangue. Mas, ainda assim, mesmo ela implorando para retirar o balão, o médico e sua equipe se recusaram, falando que era normal sentir dores, náuseas e ter vômitos”, lembra a familiar.
Ainda conforme a família, a principal revolta é pelo fato do médico ter aceitado a colocação do balão em uma pessoa que não teria a indicação para este tipo de procedimento. Segundo eles, antes do procedimento endoscópico Laura pesava 70 kg e tinha 1,63 metros, o que indica para um Índice de Massa Corporal (IMC) de aproximadamente 26,3.
Segundo a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed-MG), que inicialmente informou que a indicação do dispositivo seria para pessoas com IMC acima de 27, a entidade informou que atualmente há um consenso entre os profissionais no Brasil com a recomendação do dispositivo para pessoas com IMC acima de 25.
A reportagem teve acesso ao estudo com o consenso dos gatroenterologistas do país, porém, no documento a implantação do balão nesta faixa (considerado o início da faixa de IMC de “sobrepeso”) está condicionada ao “ganho de peso progressivo” e ao fracasso em tratamentos clínicos para emagrecimento, o que, segundo a família, não seria o caso de Laura, que tentava perder peso pela primeira vez e exclusivamente para o casamento.
Entretanto, este não teria sido o único problema, já que, conforme os familiares, o médico também teria sido negligente no pós-operatório. “Quando ela estava mal, após sofrer um vazamento de fezes na cavidade abdominal e uma sepse, tentamos buscar informações com a clínica e não tivemos respostas. Só tivemos contato com uma pessoa que dizia ser enfermeira, pelo WhatsApp, e, mesmo assim, com horas de atraso e dizendo que o médico não poderia falar por estar em procedimento. Desde a morte da Laura, não conseguimos falar com ele. Deixamos vários recados e mensagens, fomos na clínica para buscar o prontuário e ainda assim não nos entregaram”, denuncia Ana Júlia.
“A família está arrasada, o noivo devastado, a mãe sem chão. Toda a família e amigos estão muito tristes, pois a Laura era uma menina muito doce, sorridente, carinhosa. Gostava de ouvir, ajudar, e estava sempre por perto. A Laura era como um sol na vida das pessoas. Acompanhava o noivo nos jogos do Atlético, amava estar com a família reunida para tomar um bom vinho. Foi uma perda muito repentina”, lamenta a cunhada da engenheira.
Médico se defende
Procurado pela reportagem e questionado sobre as denúncias da família acerca da morte de Laura, o gastroenterologista disse estar sendo ameaçado e alegou, por nota, que “todos os requisitos para o procedimento foram atendidos no caso”, afirmando, inclusive, que o Termo de Consentimento assinado pela paciente e pelo acompanhante trazia todas os riscos existentes.
Em seguida, o texto diz que a colocação do balão ocorreu sem qualquer “intercorrência” e com agendamento de retorno para o dia seguinte, sendo que, conforme o profissional, a paciente não teria comparecido. “Após, a pedido da paciente, o balão intragástrico foi retirado, em 02/05/2024, também sem qualquer intercorrência. A paciente deveria retornar à Clínica no dia seguinte, 03/05/2024, conforme retorno agendado, mas não retornou”, continua a nota do médico.
Ainda conforme o texto divulgado pelo gastroenterologista, cinco dias depois eles souberam que a jovem passou por uma cirurgia no Hospital de Nova Lima e, em seguida, foram informados de sua morte. “A Clínica e os seus profissionais estão à disposição da família ou autoridades para prestar todo esclarecimento e apresentar toda documentação necessária, a fim de comprovar a inexistência de erro médico, omissão de socorro ou qualquer ato que desabone a conduta ilibada da Clínica e do seu corpo médico”, conclui.
O médico informou ainda que foi procurado pela família da paciente na sexta-feira e, após solicitar os prontuários médicos nas duas clínicas onde ela foi atendida, a família ficou de retornar na terça-feira (14) para buscar os documentos. A nota completa pode ser lida ao final da reportagem.