Raquel perdeu o filho Gabriel, de 19 anos, vítima do cerol

Raquel esteve com o filho Gabriel poucas horas antes do acidente Foto: Arquivo pessoal

Há dois anos, a pizzaiola Raquel Gomes, de 40 anos, sofre com a perda do filho Gabriel Matias. Isso ocorreu após uma linha de pipa com cerol atingir o pescoço do jovem, em abril de 2022, quando ele tinha 19 anos e passava de moto pela MG–020, em Belo Horizonte, no sentido Santa Luzia.

“Ele começou a trabalhar aos 15 anos e juntou cada centavo para comprar a moto, era um sonho dele. Mas a vida nos deu essa rasteira. Os dias têm sido tristes e sem graça, a gente acaba morrendo um pouco também”, comenta Raquel, que mora no bairro Monte Carlo, em Santa Luzia, na região metropolitana de BH.

As lembranças daquele dia permanecem na memória dela. “Gabriel chegou em casa por volta das 14h, com um amigo, e me pediu que fizesse algo para eles comerem. Escolheu macarrão ao alho e óleo. Eles almoçaram e depois jogaram um pouco de videogame. Logo depois, ele perguntou se eu iria sair, eu respondi que não. Com o capacete na cabeça, ele me mandou um beijo e disse que voltaria em breve, que só ia levar o amigo em casa. Foi a última vez que vi meu filho com vida”, recordou.

“A linha não mata só uma pessoa, ela destrói uma família inteira. A dor de perder alguém por algo tão inútil como uma linha cortante é profunda, deixa feridas que nunca vão se fechar”, completou Raquel.

Gabriel Matias se casaria com Tatiane Silva, com quem namorava na época do acidente. “Eu não via o meu futuro sem ele. Nós nos amávamos muito, e estávamos planejando como seria nosso casamento. É uma ferida incalculável. Não dói só no coração, dói na alma. Arrancaram uma parte de mim”, lamenta Tatiane, que estava prestes a fazer 19 anos no dia em que o jovem sofreu o acidente.

Ela conta que Gabriel passou na casa dela antes do ocorrido e, como de costume, eles se abraçaram e declararam amor um ao outro: “Ele sempre estava supersorridente, era o amigo que todos querem ter. Sempre prestativo, brincalhão, amoroso. E um namorado que estava ao meu lado para tudo”.

Uso de cerol prejudica rede elétrica também

Além de trazer riscos a pessoas, causando ferimentos e até levando à morte, o uso de linha de pipa com substâncias cortantes pode arrebentar a fiação elétrica e interromper o fornecimento de energia. Somente em maio deste ano, a “brincadeira” prejudicou quase 53 mil unidades consumidoras da Cemig, em 214 incidentes com a rede da empresa no Estado.

“É um prejuízo muito grande. Também há o risco de choque elétrico para quem está soltando ou quem tenta pegar uma pipa que ficou presa na rede”, afirma Demétrio Aguiar, engenheiro eletricista da Cemig.

Ele aproveita para reforçar uma orientação: “As pessoas devem buscar brincar (com pipa) em local que não tenha rede elétrica e sem vias de circulação. E, claro, não usem linha cortante”.

Antena ajuda motociclistas

Motociclistas devem usar a antena “corta-pipa” ao lado dos dois retrovisores da moto, orienta o conselheiro da Comissão Regional de Transportes e Trânsito da BHTrans Ederson Junior de Carvalho, de 39 anos, que também é motoboy. O equipamento consegue arrebentar a linha antes que ela entre em contato com quem está na direção do veículo. “Outra alternativa é utilizar uma pescoceira antilinha com cerol, que protege a parte mais exposta do motociclista”, acrescenta. 

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