Sete Lagoas esta entre os 15 municípios de minas que mais demitiram

Foto: Ilustrtativa
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A prefeitura devia à Maria. Ela devia à padaria, à farmácia e à loja de roupa, que teve que fechar as portas e agora não emprega ninguém. Essa ciranda, que começa com redução da produção industrial e das vendas do comércio, é o sintoma claro de uma falência múltipla que vem paralisando, dia após dia, os municípios mineiros. A cada hora dos primeiros 60 dias deste ano, quatro empresas fecharam, segundo dados da Junta Comercial de Minas Gerais (Jucemg). Nesses dois meses, 19.727 postos de trabalho com carteira assinada foram extintos, segundo o Caged, e a indústria faturou 17,3% a menos, de acordo com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).
Com a redução do consumo e com os contingenciamentos do Estado e da União, a queda na receita asfixia as administrações públicas. Prefeituras sangram orçamentos com cortes em serviços básicos, que doem na pele da população.
“O custo Brasil está levando a gente para o precipício, sem mostra de melhorias para 2016. Vamos perdendo investimentos, e as consequências vêm direto para o poder público”, afirma o prefeito de Uberaba, Paulo Piau (PMDB).
Em Sete Lagoas, na região Central de Minas, a arrecadação até cresceu. O ICMS, por exemplo, subiu 3%. No entanto, segundo o secretário da Fazenda Mário Sérgio Araújo, a crise afetou em cheio o planejamento porque as despesas aumentaram muito além da receita. “Demos um reajuste de 6,75%, e ele gerou um déficit de R$ 11,5 milhões”, conta.
Uma servidora municipal da cidade, que pediu para não ter o nome divulgado, conta que não recebeu o 13º nem os salários de janeiro e fevereiro. “Eu devo à farmácia, à padaria e vivo pedindo o cartão de crédito do meu pai emprestado. Vendo artesanato para os colegas, que também não estão me pagando, porque não recebem”, lamenta a funcionária.
Afetada pelo fechamento de muitas indústrias de ferro-gusa e redução do setor automotivo, Sete Lagoas está entre os 15 municípios mineiros que mais demitiram em 2015.
Durante um mês e meio, a reportagem percorreu as principais cidades-polo que estão nessa situação. Por lá, O TEMPO encontrou um rastro de demissões, atraso de salários, hospitais inacabados por falta de repasse de verba, alunos da zona rural sem ir à aula por falta de transporte e escolas fazendo rifas para custear pequenas reformas. As histórias por trás desses reflexos da crise serão contadas a partir de hoje, na série “Falência Múltipla”.
Percurso
Cidades-polo. A reportagem esteve em Betim, na região metropolitana; Sete Lagoas, Central, Ipatinga, no Vale do Aço; Juiz de Fora, na Zona da Mata; Uberaba, Triângulo; e Montes Claros, Norte.
Abre e fecha
Primeiros 60 dias de 2015
6.149 empresas foram abertas
2.920 foram fechadas
3.229 foi o saldo positivo entre aberturas e fechamentos
Primeiros 60 dias de 2016
5.847 empresas foram abertas
5.802 foram fechadas
45 foi o saldo entre aberturas e fechamentos
Fonte: Jucemg
Usiminas provocou efeito cascata
Ipatinga foi a quarta cidade que mais demitiu em Minas Gerais no ano passado, com fechamento de 6.941 vagas formais. Todos os dias, centenas de desempregados vão à sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga para olhar as vagas disponibilizadas pelo Sine. A oferta de emprego tem diminuído desde maio do ano passado, quando a Usiminas desligou um dos altos-fornos e gerou demissões na cadeia metal-mecânica. “Sem planos de saúde e salários, essas pessoas precisam das escolas e da saúde pública, e temos que acolher”, afirma a prefeita Cecília Ferramenta (PT).
Em Uberaba, no Triângulo, a receita caiu 7,7%. “A iniciativa privada pode enxugar quadros. Já o poder público só pode fazer o que consta em lei. As atividades não param, a população continua crescendo, e os serviços públicos são mais demandados”, diz o prefeito Paulo Piau (PMDB).

VIARedação
FONTEO Tempo
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