Primo de Anastasia será julgado por fraude em obra do hospital regional de Sete Lagoas e outras cidades

Waldemar Anastasia era sócio da CWP Engenharia, que recebeu R$ 166 milhões para executar obras públicas durante gestão do então governador

Hospital Regional de Sete Lagoas

Primo do ex-governador Antonio Anastasia, o empreiteiro Waldemar Anastasia Polizzi, vai a julgamento neste mês por fraude em licitação envolvendo obras públicas durante o mandato do parente, entre 2011 e 2012.

Em ligações interceptadas pelo Ministério Público de Minas Gerais, Polizzi conta como atuou para conquistar contratos públicos com o Governo de Minas.

O empreiteiro é ex-sócio da CWP Engenharia, empresa contratada para fazer grandes obras no Estado em 2011 e 2012, durante o governo de Antonio Anastasia. Waldemar é primo do ex-governador, afilhado político do deputado federal Aécio Neves. Contratado para fazer obras que já consumiram milhões de reais e estão inacabadas, ele começa a ser julgado este mês.

As obras investigadas são os hospitais regionais de Sete Lagoas, a 70 km de Belo Horizonte e Juiz de Fora, a 266 km da capital mineira, além do complexo “Cidade das Águas”, em Frutal, na região do Triângulo Mineiro. Nenhuma das três obras foi concluída. Mesmo assim, a CWP Engenheria recebeu R$ 166 milhões durante a gestão tucana em Minas. O ex-governador Antonio Anastasia não está entre os investigados.

Em conversa com um outro empreiteiro, Waldemar Anastasia diz que saiu do quadro societário da CWP Engenharia para participar das licitações públicas atuando como responsável técnico das obras.

“Eu combinei com eles que eu ia fazer, cê lembra disso? Eu tinha combinado, tá bom, eu entro lá porque senão cês não conseguem entrar na obra, né? Mas depois tem que tirar meu nome.”

Segundo o Ministério Público de Minas Gerais, a conversa indica que Waldemar Anastasia “atuou como responsável técnico da empresa para participação em licitação, função essencial para a prática dos desvios, eis que as exigências de capacidade técnica da licitação visavam a limitar a competitividade através de direcionamento para os atributos técnicos do Waldemar.”

O diálogo, segundo o MP, “confirma o acordo espúrio para conseguir entrar na obra.

Em seguida, o interlocutor pergunta se Waldemar Anastasia está se referindo à obra do Hospital Regional de Sete Lagoas. Ele responde que esta seria uma delas, juntamente com o projeto Cidade das Águas, em Frutal.

Em outro trecho da conversa, Waldemar Anastasia Polizzi demonstra preocupação com as investigações da Controladoria Geral do Estado.

“Estão atrás de coisa errada nossa”

O empreiteiro diz que “não deve absolutamente nada e seria o homem mais honesto que Deus pôs na terra”. A conversa termina com o interlocutor de Waldemar Anastasia dizendo que estariam querendo “ferrar o nosso primo.”

Denúncia

Por conta de irregularidades nas obras da Cidade das Águas, Waldemar Anastasia foi denunciado pelo Ministério Público junto com outras nove pessoas em 2016. Entre os réus, está o ex-deputado federal e ex-presidente do PSDB de Minas, Narcio Rodrigues, que ficou preso na penitenciária Nelson Hungria em Contagem, na região Metropolitana de Belo Horizonte, entre maio e agosto de 2016 e, hoje, responde ao processo em liberdade.

O projeto Cidade das Águas chegou a ser inaugurado pelo ex-governador Antonio Anastasia. No entanto, a obra nunca foi concluída, mas até equipamentos eletrônicos de última geração foram comprados.

Julgamento

Quatro anos depois da denúncia, o processo envolvendo o projeto Cidade das Águas começa a ser julgado ainda neste mês na Justiça Federal em Belo Horizonte. Em relação à investigação das obras do Hospital Regional de Sete Lagoas, o Ministério Público prorrogou por mais um ano o inquérito. Os promotores de Justiça aguardam a conclusão de uma auditoria da CGE (Controladoria Geral do Estado), que ficará pronta no segundo semestre deste ano.

A construção já consumiu R$ 50 milhões e se encontra totalmente paralisada, sem data para conclusão.

Outro lado

O advogado de Waldemar Anastasia Polizzi não comentou o teor das conversas e alegou que ele foi excluído do processo, apesar do seu nome constar como réu no site da Justiça Federal.

Em nota, o senador Antonio Anastasia disse que não é sequer citado nos documentos e desconhece a investigação do Ministério Público. De toda forma, ele considera que a apuração deve ocorrer, na forma da lei.

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