Com colapso na saúde, viagens na Páscoa devem ser evitadas

Feriado nesta semana ocorre em meio ao pior momento da pandemia da Covid-19 no país; comemorações no fim de 2020 levaram a aumento de casos e acendem alerta

Foto: Flávio Tavares

Quando a pandemia atinge o momento mais crítico e com perspectivas ainda piores para o mês de abril, acontece mais um feriado prolongado no país: a Semana Santa, a partir da próxima sexta-feira. Quase metade das microrregiões mineiras está sem vagas nos leitos de UTI, e a capital já ultrapassa 105% de ocupação. E com o colapso na rede de saúde em todo o Estado, o risco de que eventuais viagens possam apresentar reflexos nos índices da pandemia preocupa especialistas.

Em Belo Horizonte, só na semana passada, o número de atendimentos de casos da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que inclui doenças respiratórias como a Covid-19, praticamente dobrou, o que mostra que a situação pode se agravar ainda mais. Estimativas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontam que, no ritmo atual, até o fim de abril, o Brasil pode ultrapassar a marca de 4.000 mortes diárias pela Covid-19.

Para a infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Raquel Stucchi, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, evitar um cenário pior depende da adesão das pessoas às medidas de isolamento social.

“No feriado da Páscoa, a recomendação, mais do que nunca, é que a população fique em casa, não viaje nem faça festa ou confraternização. O que vivemos hoje é reflexo do que fizemos três semanas atrás, e, se houver muitos deslocamentos na semana que vem, vão faltar leitos, insumos, e veremos milhares de mortes diárias”, enfatizou Raquel.
Pesquisador da Fiocruz, Daniel Villela lembrou que os dados crescem em todo o país de uma forma expressiva e que a média móvel de óbitos diários já ultrapassou 2.000.




“É uma tendência crescente que só será revertida com medidas duras de restrição de atividades não essenciais. E não é por ter um feriado se aproximando que devem viajar. O ideal, neste momento, é ficar em casa. O deslocamento de um município para o outro acaba aumentando muito os contatos”, frisou Villela.

Pior ainda

O infectologista Leandro Curi afirma que o índice de transmissão pode ser até 15 vezes maior do que o divulgado por conta do baixo número de testes.

Aumento de 76% dos casos após festas

Os índices da pandemia após feriados prolongados no ano passado mostram que, caso as pessoas não respeitem as medidas de restrição, o histórico que ajudou o país a atingir uma segunda onda ainda pior pode se repetir. Um exemplo é o impacto do Natal e do Ano-Novo na capital mineira. No início de janeiro, poucos dias após as datas, eram 149,6 casos de Covid-19 por 100 mil habitantes – quando o número está abaixo de 20, é considerado que a doença está controlada. Na semana seguinte, o índice saltou para 263,4, uma alta de 76%.


O infectologista Leandro Curi pede às pessoas que tenham marcado viagens na próxima semana, como uma visita a parentes no interior de Minas, que repensem. “Muitos vão para a casa de familiares e, inevitavelmente, se aglomeram. E pode ter pessoas que estão se preservando, chegam filhos e netos que podem carregar o vírus”, declarou.

Segundo Curi, o maior risco é no deslocamento. “Será que vale a pena ficar horas e horas ou dá para cancelar a viagem? Se não for possível, viaje com as janelas abertas e use a máscara N-95”, que protege mais contra aerossóis”, destaca.


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