80% das escolas privadas infantis devem reabrir em BH já nesta segunda-feira

Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) diz receber relatos de que 60% a 70% dos estudantes retornarão às aulas na próxima semana

Arrumar a mochila e enviar o filho para a escola pareciam tarefas simples antes da pandemia, mas a abertura das instituições de ensino infantil para as aulas presenciais em Belo Horizonte obrigaram a estatística Fernanda Colenghi, 36, a incorporar novos passos na preparação para a volta às aulas da filha, Helena, de 3 anos. Desta vez, para ficar pronta para reencontrar os colegas na segunda-feira (26), Helena vai tomar a vacina contra gripe, ganhar três máscaras para cada dia da semana e precisar se adaptar a uma lista de regras de segurança.

Como cerca de 60% a 70% dos pais de alunos de escolas privadas, segundo relatos colhidos pelo Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) entre as instituições, Fernanda decidiu levar a filha à escola já no primeiro dia de reabertura. A decisão não surgiu sem receio, porém: “Vou mandar ela para a escola como uma tentativa . Se eu vir que a escola está seguindo tudo o que apontou nas orientações e reuniões sobre o retorno e mostrar os cuidados que está tomando, mantenho ela indo. Mas, se eu não me sentir segura de alguma forma, volto com ela. O medo é o vírus chegar na nossa casa”, diz.

De acordo com o Sinep-MG, cerca de 80% das escolas que oferecem ensino infantil na cidade sinalizaram que abrirão já na segunda. O percentual despenca para 20%, porém, entre as escolas maiores, que também oferecem aulas para o ensino fundamental e médio, segundo a presidente do sindicato, Zuleica Reis. No caso delas, a maioria reservará a próxima semana para afinar os últimos detalhes com os pais e reabrirá no dia 3 de maio, como está previsto para as escolas da rede municipal.




“A escola tem a liberdade e a autorização para sua reabertura, mas cada uma terá autonomia para dizer como retorna: se com todos os alunos, ou primeiro com alunos até 3 anos e, depois, de 4 a 5. Ajudaremos a Vigilância Epidemiológica de BH passando as orientações para as escolas, e elas terão um canal direto com a vigilância caso tenham qualquer ocorrência”, diz Zuleica. Pelo censo de 2019, a capital comportava cerca de 1.800 escolas privadas de educação infantil, porém 40% delas podem ter fechado as portas definitivamente durante a pandemia, estima o Sinep-MG, que ainda não tem os dados oficiais sobre os fechamentos.

Mesmo com a escola da filha aberta a partir de terça-feira (27), o funcionário público Elbert Santos, 40, preferirá manter Sarah, de 5 anos, no ensino remoto, por ora, pois a esposa está grávida de cinco meses — gestantes podem sofrer complicações no parto se forem contaminadas pelo coronavírus. “Até gostamos dos protocolos que a escola está adotando, e nossa filha está ansiosa para voltar à escola pela interação com as crianças. Em conversas de WhatsApp com os pais, tenho percebido que a maioria ainda vai deixar os filhos em casa, pelo menos na turma da minha filha”, detalha ele.

Protocolos de escolas de escolas privadas e municipais poderão ter diferenças

A rede privada tem autonomia para definir regras específicas de funcionamento, conforme explicou a secretária municipal de Educação, Ângela Dalben, na coletiva de imprensa em que anunciou o retorno às aulas, no início desta semana, desde que se fundamentem nas regras municipais. A versão versão final das normas será publicada no Diário Oficial do Município (DOM) neste sábado (24), segundo a prefeitura.


O Sinep-MG tem uma lista de protocolos desde julho de 2020, elaborada junto à Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções (Ameci), que serve como alicerce para a maioria das escolas privadas de BH, de acordo com a presidente do sindicato, Zuleica Reis. Outras escolas contrataram empresas para realizar um diagnóstico da estrutura escolar e propor medidas de segurança, que incluem, da mesma forma como na rede municipal, a criação de “bolhas”, em que uma turma não tem contato com a outra em nenhum momento das atividades.

O colégio Arnaldo, por exemplo, pediu apoio à própria Ameci para estabelecer as normas sanitárias. Com cerca de 25 matriculados na rede infantil em cada uma das quatro unidades, a escola permitirá turmas de aproximadamente de sete crianças, obedecendo à regra de 50% da ocupação máxima da sala, explica Cléa Prado, diretora de Ensino da Rede Verbita de Educação, que inclui o colégio.

“Não vai haver rodízio entre as crianças de até 3 anos. Mas para as crianças de 4 e 5 anos, da pré-escola, metade da turma assistirá às aulas presenciais em uma semana, e a metade na outra, tendo aulas remotas nesse intervalo. Primeiro, vamos deixar que as crianças convivam entre si em espaços abertos. Elas vão chegar com medo. Compramos algumas capas de chuva para a equipe, que podem ser higienizadas com álcool, para que a criança possa ganhar colo. Cada uma vai ter seu próprio kit de brinquedo, igual ao das outras. Não vamos impedir o toque, mas, se a criança encostar na outra, vamos explicar os motivos (para não fazer isso), usar da brincadeira, como ‘Ops, encostou no colega, agora vamos lavar as mãos’”, detalha Cléa. A escola também exigirá que as crianças maiores de dois anos levem duas máscaras limpas por dia à escola.


Os protocolos do Sinep-MG estipulam, por exemplo, que todas as salas de aula devem ter dispensador de álcool em gel e proíbe compartilhamento de utensílios como pratos e talheres, além de reforçar a obrigatoriedade de afastar alunos e professores com qualquer sintoma suspeito de Covid-19, permitindo o retorno somente após avaliação médica.

Sindicato de professores discutirá ações contra retorno presencial

O Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro Minas), que representa a categoria na educação privada, não descarta entrar com uma ação judicial contra o retorno presencial das aulas ou, caso haja aderência dos profissionais, declarar uma greve — possibilidade mais difícil do que na rede pública, segundo a presidente do sindicato, Valéria Morato.

Ela questiona que o retorno das aulas presenciais ocorra antes da vacinação dos professores, que ainda não tem data para ocorrer. “Protocolos do ano passado pensavam em resguardar grupos de risco, mas a questão agora é outra, com outras cepas do vírus atingindo pessoas cada vez mais jovens. E os professores da educação infantil têm, justamente, entre 30 e 50 anos. Em cidades de Minas onde as aulas voltaram, o que mais me salta aos olhos são escolas que não fornecem Equipamentos de Proteção Individual (EPI) aos professores e professores que se contaminam com Covid-19 e a escola não conta aos pais que era a doença”, afirma a sindicalista. Segundo o sindicato, BH tem aproximadamente 3.000 professores nas creches privadas e 6.000 nas salas de aula da pré-escola.

Nessa sexta-feira, a entidade protestou contra as aulas presenciais em frente à sede da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), junto ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sind-Rede/BH) e outras organizações da educação.

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