O inédito transplante triplo em lutador mineiro em plena pandemia

José Honório foi submetido a transplante triplo — Foto: Hospital São Lucas

No dia 4 de abril de 2021, o lutador mineiro José Honório da Silva Filho, de 56 anos, travou a disputa mais difícil de sua carreira. Em pleno domingo de Páscoa, o faixa-preta de jiu-jitsu não competiu por nenhum título, troféu ou medalha. O que estava em jogo, não em um tatame, mas em um hospital, era sua própria vida.

Campeão de caratê, muay thai e luta livre, entre outras modalidades de artes marciais, José Honório foi submetido a um transplante triplo. Em uma mesma cirurgia, os médicos trocaram o coração, o fígado e os rins do paciente.

O procedimento, inédito na América Latina, aconteceu no Hospital São Lucas, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro.

“Uma luta só acaba quando soa o gongo ou o juiz determina”, afirma José Honório. “Sempre gostei de lutar até o fim.”

O transplante triplo de José Honório durou nove horas. Parece muito, mas a previsão inicial era 15. Para não ter imprevistos durante a luta, ou melhor, intercorrências durante a cirurgia, os médicos “treinaram” antes.

Sob a orientação de especialistas da Universidade de Miami, que já realizaram cinco cirurgias deste tipo, os brasileiros fizeram uma série de simulações.

“São muitas as dificuldades de um transplante triplo”, avalia o cirurgião abdominal Eduardo Fernandes. “Encontrar um doador compatível é apenas uma delas”.

Se o paciente precisa trocar, simultaneamente, três órgãos, explica o médico, é porque o seu estado de saúde é muito grave. E o de José Honório, que sofria de insuficiência cardíaca, cirrose hepática e disfunção renal, inspirava muitos cuidados.

Entre a internação do paciente e o tão esperado transplante, se passaram 30 dias. O coração, o fígado e os rins de José Honório vieram de um mesmo doador: um rapaz de 18 anos que morreu em um hospital da Baixada Fluminense, a 60 quilômetros do São Lucas, em Copacabana.

Parte da equipe responsável pelo transplante triplo: procedimento era até então inédito na América Latina — Foto: Hospital São Lucas

Vinte batedores da Polícia Militar escoltaram a equipe médica do Programa Estadual de Transplantes, responsável pela captação dos órgãos.

Em 30 minutos, a caixa térmica chegou ao hospital. Um rim pode esperar até 24 horas para ser transplantado, mas, no caso do coração e do fígado, o tempo de isquemia, ou seja, que um órgão dura depois de ser retirado do corpo do doador, é de, no máximo, 4 e 8 horas, respectivamente.

“É uma corrida contra o tempo”, define o médico que, no centro-cirúrgico, coordenou uma equipe de 20 profissionais, entre cirurgiões, anestesistas e nefrologistas. Com 1,5 mil transplantes no currículo, o cirurgião Eduardo Fernandes nunca tinha realizado um transplante triplo antes.

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