Heineken desiste de construir fábrica em Pedro Leopoldo

Decisão da cervejaria ocorre após um intenso imbróglio sobre o caso; MP e ICMBio alegaram riscos ao patrimônio cultural e ao meio ambiente

A cervejaria Heineken anunciou, nesta segunda-feira (13), que não vai mais construir uma fábrica da empresa em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A decisão ocorre após um imbróglio envolvendo o empreendimento, que foi embargado na Justiça pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) também abriu a consulta civil para apurar a situação. 

De acordo com nota enviada à imprensa, uma cervejaria ainda não definiu em qual local será construída a fábrica. O projeto, no entanto, continuará sendo levado em Minas. “A decisão foi tomada após poucos meses de diálogo sobre os diferentes entendimentos de órgãos envolvidos e da sociedade em geral, relacionado à proximidade do terreno atual com uma área importante de preservação ambiental e arqueológica da região”, diz a nota. 

O texto ainda diz que a permanência da empresa em Pedro Leopoldo só faria sentido se contasse com o apoio de toda a sociedade, incluindo agentes que contribuem para o desenvolvimento socioambiental da região. “O respeito e o cuidado com as pessoas e com o meio ambiente direcionam nossas decisões”, complementou a nota. Ainda conforme a cervejaria, todos os ritos para obter a licença ambiental foram seguidos.

Com a mudança de planos, a Heineken destaca que o volume de produção previsto para 2023, contando com a operação na Grande BH, será compensado por meio de investimentos adicionais na expansão da capacidade produtiva de outras cervejarias do grupo.

Entenda o caso

A construção da fábrica da Heineken em Pedro Leopoldo foi anunciada em dezembro de 2020 e comemorada pelo governo de Minas, diante da perspectiva de um investimento de R$ 1,8 bilhão no Estado.

A empresa formalizou o pedido de licenciamento ao governo mineiro em junho deste ano, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), e recebeu autorização para iniciar as obras dois meses depois. A secretaria afirma que, segundo as informações apresentadas pela empresa, não haveria indício de dano irreversível às cavidades da Lapa Vermelha.

Já o ICMBio avaliou que as informações apresentadas pela Heineken foram insuficientes e que a obra pode ter potencial de impacto ambiental, por isso aguarda novos dados da empresa. No último mês, o Ministério Público também abriu inquérito civil para apurar possíveis impactos ao patrimônio cultural da região com a instalação da fábrica.

A principal preocupação do MP era com o sistema hidrológico da região. Além disso, o órgão alegava temor em relação a impactos negativos e poluidores do sítio arqueológico. Bem próximo do local em que seria construída a fábrica foi descoberto o crânio de Luzia, fóssil humano mais antigo das Américas. O MP, inclusive, chegou a recomendar à Semad a suspensão da licença.

Na semana passada, a pasta informou que não aceitou a recomendação, mantendo a licença, mas que realizaria uma construção conjunta com o MP para se chegar à melhor definição para o caso.

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