No mês de maio, a UTI do HNSG ficou sem um de seus profissionais mais queridos. O Dr. Otávio Cândido de Oliveira, agora aposentado da função de intensivista, deixa o cargo que ocupou durante três décadas de sua vida.
Dr. Otávio fez parte da comissão de médicos que trabalhou pela implantação da Unidade de Terapia Intensiva no HNSG. Em meados de abril de 1986, quando o setor foi inaugurado, ele fez seu plantão já na primeira semana de funcionamento. Para que os sete primeiros leitos fossem disponibilizados, foi preciso muito investimento. “Eu participava desse movimento de construção da UTI. Tivemos a ideia, a diretoria a abraçou e acabou saindo. Mas foi muito difícil. Precisamos levantar muito dinheiro”, relembra.
Naquela época, havia certo receio sobre a viabilidade da UTI, mas Dr. Otávio afirma que era frequente o encaminhamento de pacientes para Belo Horizonte. “Isso nos incomodava muito porque atendíamos um paciente e depois era muito trabalhoso manter o contato. E esses encaminhamentos eram e ainda são muito trabalhosos. Então esperávamos que a demanda fosse bem grande”, diz. Naquela época, os sete leitos receberam equipamentos que não se comparam aos que existem hoje. “Tínhamos os monitores, ventiladores bem simples, que eram o que existia na época e o hospital tinha condições de comprar”. O número de funcionários, também bem diferente da estrutura atual: um médico de plantão a cada 12 horas, uma enfermeira supervisora da UTI e um técnico para cada dois leitos.
A equipe da UTI, buscando se preparar para prestar um bom serviço à comunidade, antes mesmo da inauguração em Sete Lagoas, passou um ano se preparando e se qualificando no Hospital Felício Rocho. Depois de iniciados os trabalhos, continuamos recebendo suporte técnico e científico daquela entidade, além de vários plantonistas nos finais de semana. “A UTI sempre procurou acompanhar a evolução da medicina intensiva com conhecimento e tecnologia”, comenta o médico.
O DIA A DIANA UTI
Conviver, durante 30 anos, com pacientes que estão constantemente correndo risco iminente de morte foi um dos maiores desafios do Dr. Otávio em sua carreira na UTI. Mas com o tempo, ele aprendeu a respeitar seus próprios limites e os da profissão. “Nunca me deixei dominar pelo sentimento real de perda de um paciente, mas a tristeza de cada perda é imediatamente superada pelas inúmeras vidas salvas, concomitantemente, com a ajuda de Deus, indubitavelmente. Dentro das nossas condições, eu me empenhava ao máximo para trabalhar por aquele paciente, respeitando sempre as nossas limitações. Mas eu tenho um princípio de que nada acontece por acaso. Tudo tem seu tempo e lugar. E eu respeito isso. Se um jovem vem a falecer dentro de um hospital, onde ele pode receber toda a assistência que precisa, é porque foi o momento dele. É porque tinha que acontecer mesmo”, reflete o médico que admite não desistir facilmente da resolução dos problemas. “E problemas? Esses não faltam em uma UTI. Diante de muitos deles, algumas vezes, o coração parece sair do peito”, confessa.
FUTURO
Depois de 30 anos se dedicando à medicina intensiva, Dr. Otávio ainda não está pronto para pendurar o jaleco. Ele até gostaria de parar de trabalhar, mas afirma que no momento não é possível. “Saí da UTI, mas ainda fico no consultório. Vou trabalhar como clínico, que é minha formação. Essa é uma especialidade em extinção e se a estrutura da medicina pública no país não mudar, o clínico vai desaparecer totalmente”, lamenta.
E com tanta experiência de vida profissional, Dr. Otávio deixa um recado para os novos médicos, que estão começando na carreira e na vida:
“O médico precisa valorizar a atenção com o paciente, como está descrito no primeiro capítulo do Tratado de Medicina Interna do Harrison, que diz o seguinte: o médico não precisater o conhecimento como primeira característica de bom médico, e sim a disponibilidade: ter tempo para os seus pacientes.
A segunda característica ainda não é o conhecimento médico. É a maneira de lidar com esse paciente: o tato. Essa relação tem que ser eficiente. Só em terceiro lugar vem o conhecimento médico, que não precisa ser extremamente abrangente. Na maioria das vezes, basta ao profissional dominar os fundamentos da Arte Médica e, principalmente, daquelas doenças mais comuns onde ele trabalha. Assim ele consegue tratar 70 a 80% de seus pacientes. Nas outras situações, terá o auxílio de outros colegas da sua especialidade ou de colegas de outras especialidades.