CRM investiga ‘falso médico’ de Portugal que atuaria em Contagem

O suposto médico teria atendido mais de 20 mil pessoas em ONG de Contagem; ele não foi encontrado para falar sobre o caso

O Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG) investiga denúncia de um falso médico que estaria atuando em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. O suspeito é o português Francisco Paulo Martins Melro dos Santos, natural de Coimbra, que vive no Brasil há cerca de oito anos. Ele foi gestor de Atenção Básica na Prefeitura de Contagem na administração passada e trabalhou também em uma ONG na cidade, onde teria atendido mais de 20 mil pacientes.

Após receberem denúncias de ex-colegas de trabalho do estrangeiro, integrantes do conselho fizeram diligências no começo desta semana na cidade, em busca de informações. Segundo um dos denunciantes, que pediu para não ser identificado, a conduta do português era estranha. “Ele chegava mandando como médico, mas tinha condutas que não eram normais. Toda vez que atendia alguém olhava na internet antes de indicar a medicação”, relatou.

As suspeitas aumentaram quando uma colega de trabalho dele pegou o carimbo usado pelo “médico” para fazer prescrições e checou o registro do CRM. O número, segundo o denunciante, pertencia a outro profissional. Ela disse que surgiram relatos de pessoas que tiveram complicações de saúde após serem medicadas por Melro.

Registros. No site da Ordem dos Médicos de Portugal, que equivale ao Conselho Federal de Medicina (CFM) do Brasil, o registro do suposto médico não aparece na busca disponível no site. A reportagem fez a pesquisa e não obteve resultado. Francisco Paulo Melro tem, no entanto, registro na Ordem dos Enfermeiros de Portugal, entidade que representa a categoria no país.

Para atuar no Brasil, médicos do exterior precisam fazer o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida), do Ministério da Educação, e apresentar a documentação ao CFM. No site do conselho, também não aparece o nome de Melro entre os profissionais registrados e, portanto, autorizados a exercer a medicina.

Na gestão passada, Melro atuava como gestor na Secretaria Municipal de Saúde, mas foi exonerado pelo atual prefeito. Hoje, ele atua em um cargo administrativo na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Habitação, mas, segundo a assessoria de imprensa do Executivo, não faz, de maneira nenhuma, atendimentos ligados à medicina. Um dos endereços visitados por integrantes do Conselho Regional de Medicina foi a própria prefeitura, que também passou a investigar o trabalho do português.

A reportagem tentou falar com o estrangeiro, mas ele não foi localizado.

‘Experiência’ de 25 anos na medicina

Francisco Paulo Melro se apresenta como médico fisiatra, reumatologista e clínico da dor. Ele diz ter 25 anos de carreira, consolidada como referência na área da hipoterapia, método terapêutico e educacional que utiliza cavalos para o desenvolvimento psicossocial dos pacientes.

O português diz que foi fundador de umas das maiores organizações de medicina terapêutica do mundo, a Associação Portuguesa de Hipoterapia – ele teria, inclusive, vários livros publicados na área. Além disso, teria trabalhado 17 anos com pesquisa de células-tronco em Portugal. Ele afirma ainda que já havia feito muito por seu país e que, após atuar em outros continentes, como África e Ásia, veio para Contagem com a missão de melhorar a saúde pública.

SAIBA MAIS

MPMG. Colegas de trabalho do suposto médico fizeram denúncia contra Francisco Paulo Melro à ouvidoria do Ministério Público de Minas Gerais, em julho do ano passado. Devido ao recesso da Semana Santa, a reportagem não conseguiu saber se o caso chegou a ser investigado pelo órgão.

Polícia Civil. A denúncia também foi feita na Delegacia de Plantão de Contagem. A assessoria de imprensa da corporação não soube informar nessa quinta-feira (29) se foi aberto inquérito.

Contagem. A prefeitura informou que a Secretaria Municipal de Administração vai averiguar o caso.

Pena. Exercício ilegal da profissão é considerado uma contravenção penal, e a pena é de prisão simples, de 15 dias a três meses ou multa.

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