Backer faz festa e relança cerveja dez meses após casos de intoxicação

Famílias de parte das vítimas de intoxicação por dietilenoglicol estão indignadas com o evento de reabertura ocorrido no sábado (17); festa teria sido gratuita para convidados "VIP"

Conhecido como templo cervejeiro da Backer, o restaurante, anexo à fábrica no bairro Olhos D’água, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, reabriu as portas no sábado (17), com o relançamento dos rótulos da cerveja da empresa e, também, engarrafados no formato chopp, dos estilos Capitão Senra Pilsen e Amber. A produção e comercialização, conforme o gerente da organização, Dalisson Santos, só é possível por ocorrer na Germânia, cervejaria parceira situada em Vinhedo, no interior de São Paulo.

Familiares de parte das 26 vítimas – 10 delas mortas e outras 16 com sequelas graves – estão indignados com o formato de um suposto evento de reabertura ocorrido no fim de semana. Segundo eles, a festa, para convidados “VIP”, teria sido gratuita, com bebida e comida à vontade, feita pelo novo chef da casa, Arlen Fortes.

“Como eles arranjaram autorização para produzir com esse nome, Capitão Senra, mesmo fora de Minas, se o MAPA é um órgão federal, com jurisdição em todo o território nacional e os proibiu?”, questiona Ney Eduardo Vieira Martins, 65, dentista de São Lourenço e uma das vítimas de contaminação por dietilenoglicol, presente em alguns lotes da cerveja produzida pela Backer.




Além de não mais conseguir caminhar em linha reta, um dos distúrbios neurológicos causados pela intoxicação, ele perdeu 70% dos rins. “Minha vida foi destruída. Uma profissão de 37 anos. Será que pensam em indenizar 10 mortes e 16 sequelados graves com a reabertura de um restaurante?”, indaga.




Para Santos, essa é uma das providências a serem tomadas para que as dívidas da Backer sejam pagas. “Não houve festa. Reabrimos no sábado e todo o consumo foi pago e isso precisa ocorrer, precisamos trabalhar. Somos uma empresa que gera mais de 600 empregos. Não estamos produzindo e nem vendendo nada produzido aqui. Estamos vendendo o estilo Capitão Senra, garantindo as características e o sabor, porque o nosso mestre cervejeiro viajou para a fábrica da Germânia, mas a garrafa não tem a marca da Backer. Ela vem de São Paulo, foi produzida lá”, afirma. Da Germânia, ainda de acordo com o gerente, vem também os rótulos Germânia Amazônia e Pilsen, para completar o novo cardápio de cervejas do estabelecimento.

O advogado de parte das vítimas, André Couto, reforça a decisão do Ministério da Agricultura de proibir a reabertura da fábrica da Backer, bem como a comercialização de todo e qualquer produto feito no local. Ele chama a atenção para o fato de a empresa ter de arcar com suas responsabilidades legais – indenizações das mortes, tratamentos das vítimas com sequelas sérias e em dificuldades, acordos por meio da câmara de conciliação criada por ela própria e, até o momento, com baixo índice de resolutividade – sem revanchismos.




“Se, posteriormente, o Ministério Público e a Justiça entenderem ser possível a retomada da produção e venda do que for feito na fábrica de BH, não nos cabe juízo de valor. Contudo, a questão que se coloca agora são os compromissos judiciais da organização, que independem dessa retomada ou da reabertura do restaurante, porque dizem respeito a um dano causado anteriormente. Não esperamos que a Backer nunca mais venha a produzir. Serão os consumidores, com o livre arbítrio, que decidirão se ela vai voltar ao mercado. Mas esperamos, sim, que ela nunca mais cause a morte e nem prejudique seus clientes”, diz.

Retorno da cervejaria




A reportagem de O Tempo tentou contato com a Cervejaria Germânia. Como não havia expediente na sede da empresa, foi acionado o 0800 do Setor Comercial da organização e a atendente direcionou o caso para o gerente identificado apenas por Otávio. O funcionário disse que buscaria a confirmação da produção e suas condições com a diretoria da firma, mas, até o momento, não foi dado retorno à Redação.

Quanto a questão da festa de reabertura, apesar de o gerente negar que houve o evento e, sim, apenas a reabertura do restaurante, o vigia que preferiu não se identificar da Geosol, empresa vizinha à fábrica de cerveja, diz que a movimentação seguiu noite adentro. “Tivemos que colocar os cones na porta da nossa garagem para impedir que os convidados estacionassem e impedissem o trânsito de entrada e saída de carretas”, disse.




O catador de material reciclado que também não quis se identificar, morador da rua São Vicente, que faz esquina com a rua Santa Rita, da cervejaria, afirmou que, na quinta-feira (15), os manobristas já o haviam avisado da festa. “Ouvi barulho a noite toda. O pessoal se esbaldou”, afirmou, no domingo (18), enquanto recolhia o material e alimentava um de seus 18 cachorros Pepeu, com os restos servidos aos participantes.

FONTEO Tempo
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