Mãe de bebê morto em Sete Lagoas: ‘Queria fugir com ele enrolado no lençol’

Familiares do bebê que foi atropelado e morto em Sete Lagoas amparar a mãe da criança
Foto: Alex de Jesus/ O Tempo

Na caçamba do bairro Dona Sílvia, em Sete Lagoas, na região Central de Minas Gerais, foi deixado o carrinho de bebê quebrado de Bryan Henrique da Silva, de apenas 5 meses. Era lá que ele estava, ao lado da babá, de 41, quando foram atropelados por um motorista inabilitado. Os dois morreram, e são velados juntos nesta tarde de sexta-feira (19).

O acidente aconteceu, nessa quinta-feira (18), na porta da casa de Adriana Pereira, que tomava conta do bebê para a vizinha. “Eu fui ao centro pegar o material escolar do meu menino de 4 anos quando a madrinha do Bryan me ligou e disse: ‘Tatinha, a Adriana foi atropelada e morreu na hora’. Eu estava na lotação e perguntei do Bryan, ela me respondeu que ele também tinha sido atropelado, mas não sabia como o meu filho estava”, explicou a mãe do menino Tátila Cristiane da Silva, de 28 anos.

Ela passou mal e precisou ser encaminhada para o mesmo hospital em que o bebê foi levado. Lá, a dona de casa desmaiou três vezes.

“Me deram um calmante e, quando voltei, vi o Bryan e o peguei no colo. Queria levar meu filho para casa, mas falaram que ele tinha que ir para o IML (Instituto Médico Legal). Ele não quebrou nada no corpo, foi a pancada na cabeça que fez ele morrer. Eu queria fugir do hospital com ele enrolado no lençol”, afirmou.




O bebê era o caçula de quatro filhos e tinha o costume de ficar com a Adriana. Além dos dois, a irmã dela também foi atropelada e quebrou o braço.

O acidente

As vítimas estavam na porta da casa da babá, que fica na esquina e não tem muro, quando, ao fazer uma conversão, o motorista subiu a calçada e atingiu as vítimas.

Ele estava com mais outras quatro pessoas no veículo, entre eles o dono do carro, de 27 anos, que acabou preso.

À Polícia Militar, o homem contou que sabia que o colega não era habilitado, mas mesmo assim emprestou o carro. O grupo participava de uma festa na mesma rua e tinha saído para comprar mais bebidas alcoólicas. O motorista fugiu e ainda não foi localizado.


Irmã chora abraçada à roupinha de bebê

Na rua em que o acidente aconteceu, os moradores estavam consternados. Bryan morava com a família praticamente em frente à residência de Adriana.

“Eu não estava na hora do acidente, minha esposa me ligou e eu vim correndo. Cheguei e vi aquela cena lamentável. Morava todo mundo aqui comigo, eu estou muito sentido, não aguento mais”, desabafou Régis Douglas Aguiar Salgado, de 42 anos, padrinho do bebê.

Uma das irmãs da criança, uma menina de 7 anos, chorava enquanto era consolada por uma das tias, que dizia: “seu irmão virou uma estrelinha”.

A menina só parou de chorar quando entrou em casa, pegou uma roupa do bebê e ficou abraçada com a peça.


Correria

Enquanto a mãe do bebê conversava com a reportagem de O TEMPO, vizinhos e familiares começaram a correr para a rua de cima.

O grupo achava que o motorista tinha voltado ao bairro. No entanto, a informação não procedia.

Tátila também correu e, ao perceber que não tinham achado o condutor, precisou ser amparada.

“Eu tentei sair do hospital ontem para me jogar na frente de um carro, mas depois voltei e fiquei beijando a cabeça do Bryan. Preciso ter forças para cuidar dos meus outros três filhos. Quero que a Justiça cobre o que ele fez, isso não  tem perdão. Ninguém imagina a dor de uma mãe. Se a Justiça não fizer nada, nós vamos cobrar”, finalizou.


Ele assassinou a Adriana, dizem amigas

A babá Adriana deixa três filhos de 20, 18 e 15 anos. Do lado de fora do velório, três amigas lembravam como ela era querida pelos moradores do bairro.

“Adriana olhava crianças há muitos anos. Sempre foi mãe e pai para os filhos, era querida por todo mundo. Ele (motorista) assassinou a Adriana. Quando ele entrou naquele carro e colocou a mão no volante já assumiu o risco de matar. Queremos justiça, seja ela qual for”, disse uma das amigas, que preferiu não ter o nome divulgado.


Os filhos da babá ficaram dentro do velório em uma área não autorizada para a presença da imprensa.

Devido à pandemia do Coronavírus, familiares e amigos fizeram uma fila do lado de fora e a entrada era controlada por funcionários da funerária.

Os corpos, velados no mesmo local, serão sepultados ainda nesta sexta-feira.

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