Menina que estava com piloto de parapente que morreu durante voo em Sete Lagoas conta detalhes do incidente

Dafiny com a mãe Karine: alívio, gratidão e fé

Em casa um dia depois do acontecimento que mudaria sua vida para sempre, a menina Dafiny, de 13 anos, não consegue se livrar da sensação de ter nascido de novo. “Parece que eu não sou mais eu”, disse ela à Itatiaia. Ainda assustada com tudo e sentindo-se cansada por não ter dormido bem à noite, ela contou que também não consegue tirar da cabeça o pensamento de que ‘para morrer, basta estar vivo’. Religiosa, filha de Karine, que é pastora de uma Igreja evangélica, Dafiny cita ainda uma referência bíblica: “Temos que estar todos com a vida consertada e preparada. Estamos aqui apenas de passagem”.

Cones de chocolate

Caçula de outros três irmãos – um rapaz de 23 e gêmeas, de 17 – a jovem mora com os pais em Sete Lagoas, na região central de Minas. Cursa a 8ª série numa escola pública e faz cones de chocolate (com recheios de Nutella, leite Ninho e paçoquinha) para vender nos barzinhos e lanchonetes da cidade.

Mas ontem ela quis fazer diferente. Acompanhada da mãe foi oferecer os doces no Clube de Voo Livre da cidade. Lá ficou encantada com o vai-e-vem dos equipamentos coloridos e pensando em como deveria ser bom estar lá em cima. Uma hora, um piloto aterrissou bem pertinho dela. Era Gilberto Pereira Araújo, de 50 anos. Ele sorriu pra ela e ela perguntou quanto custava o passeio. “Ele respondeu “R$ 250’ e perguntou se ela tinha vontade de experimentar. “É meu sonho”, devolveu Dafiny. Gilberto, então,

pediu autorização à mãe da menina e indagou o peso dela. Com os cintos de segurança atados, eles ganharam o céu.

Durante o voo, silêncio e paz

A menina conta que os primeiros minutos foram tensos. Afinal, ela nunca tinha feito aquilo antes e a adrenalina estava a mil. Mas, logo em seguida, os batimentos cardíacos foram serenando e ela respirou aliviada. Achou mágica a experiência, a vista e o silêncio lá em cima. “Senti muita paz”, contou.

Barulho como um ronco alto

Mas foi justamente nesse momento que Gilberto falou pela primeira e última vez: “E aí está gostando? Te falei que você podia ficar tranquila…” Antes que a menina pudesse responder, ela ouviu um barulho estranho como se fosse grande sopro misturado com um ronco alto. Dafiny olhou para trás e Gilberto já estava com o pescoço tombado para o lado e os olhos abertos, estatelados e paralisados. “Foi uma visão de horror. Bati de leve no rosto dele e falei que era pra ele parar de brincar comigo, que já estava na hora de voltarmos e que aquela brincadeira não tinha graça nenhuma”. Dafiny repetiu o movimento algumas vezes e, como o piloto não respondia, a menina entendeu que a situação era grave.

Segundo ela, “a ficha foi caindo aos poucos” e quando assimilou que estava voando sozinha com alguém sem vida no comando, entrou em pânico e pensou em apertar o cinto de segurança e pular, mas acredita ter “ouvido a voz de Deus”. Em vez disso, colocou a mão na cabeça de Gilberto e rezou pedindo a Deus que o ajudasse a não morrer. “Meu Deus, ajuda esse moço que não está bem”.

Mas o equipamento foi seguindo seu curso, cada vez mais rápido, planando no ar e perdendo altura. De vez em quando, Dafiny olhava para trás e Gilberto continuava imóvel, com a cabeça tombada para o lado.

A jovem abria e fechava os olhos, gritava e chorava e viu, exatamente, quando o paraglider passou ao lado de fios de alta tensão e, por fim, aterrissou numa mata em cima de uma árvore, próximo à pista de pouso.

Força e sangue frio

Pelos cálculos dos outros pilotos do clube, Gilberto já estava morto há uns oito minutos quando o paraglider foi escorregando pelos galhos da árvore e, finalmente, encontrou o solo. O corpo do homem caiu em cima de Dafiny. Ela teve que fazer bastante força para conseguir tirá-lo.

Na sequência, soltou os cintos de segurança dele, deitou-o no chão, colocou a mão no nariz para ver se respirava, checou o pulso e somente aí, quando não viu nenhum sinal de vida, é que começou a gritar por socorro. “Saí correndo e gritando por uma estrada de trilha de moto até encontrar alguém que pudesse me ajudar”.

Karine, a mãe, viu tudo acontecer e como o pouso não foi na pista e sim na mata ao lado, sabia que tinha algo errado. Cristã fervorosa conta que sabia o tempo todo que a filha estava bem. Mas abraçá-la e saber de tudo o que a pequena passou com coragem e maturidade surpreendentes foi compensador. “Foi um verdadeiro milagre, um presente de Deus”, disse a pastora.

Dafiny disse que espera apenas que Gilberto esteja em paz e que Deus “possa confortar a família dele”.

FONTEItatiaia
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