Família do homem linchado em Sete Lagoas divulga carta aberta pedindo paz e reflexão

Foto: Divulgação

Familiares de Emerson Santana Felix, o homem de 36 anos que foi linchado após acusações de violência doméstica e abuso em Sete Lagoas, emitiram uma carta aberta à comunidade local, expressando sua dor e apelando por compreensão e respeito ao seu luto. A carta foi divulgada nas redes sociais nesta quarta-feira (13).

No documento, a família descreve a complexidade dos sentimentos envolvidos na trágica perda de Emerson, destacando a dor mútua vivida por todos os envolvidos: “Uma vida foi perdida de forma violenta e irreversível, deixando-nos com sentimentos de profunda tristeza e impotência.”

A carta aborda não apenas o luto, mas também o impacto devastador do incidente sobre a família estendida, incluindo uma mãe enlutada, um pai abalado, e dois filhos jovens que enfrentam a perda precoce do pai. “Um pai destruído pela dor, que não esperava ver seu filho partir dessa forma,” descrevem os familiares.

Os parentes de Emerson pedem à comunidade que respeite seu momento de dor e que evite julgamentos precipitados. Eles também destacam a importância de abordar os ciclos de violência e oferecer apoio a indivíduos em relacionamentos abusivos: “Desejamos que essa tragédia possa servir de alerta para todos, lembrando-nos da importância de oferecer apoio a quem se vê envolvido em relacionamentos marcados pela dor, pelo abuso e pela dependência emocional.”

A família expressa sua esperança de que o trágico evento inspire mais diálogo e menos violência, e conclui a carta com um apelo por paz e espaço para cura e reconstrução.

Carta Aberta

Nós, familiares de todos os envolvidos nos trágicos acontecimentos recentes, nos dirigimos à toda comunidade Setelagoana para expressar nosso pesar e nossa dor diante do que ocorreu. Uma vida foi perdida de forma violenta e irreversível, deixando-nos com sentimentos de profunda tristeza e impotência. Sabemos que as circunstâncias são complexas, e é difícil expressar a dor de perder um filho, mesmo reconhecendo os erros e as consequências de suas escolhas.

Estamos todos, de ambas as famílias, em luto. Perdemos alguém próximo e, ao mesmo tempo, sentimos a dor e as marcas que ele deixou. Não compactuamos com nenhum tipo de violência, e repudiamos todos os atos que feriram tantas pessoas ao longo dessa história. Ainda assim, o desfecho que culminou em sua morte pelas mãos de populares revoltados nos deixou devastados. A dor de perder um ente querido, seja ele quem for, é incomensurável e profunda.

Dentre as pessoas que sofreram, há uma mãe que agora vive o luto por seu filho e tenta encontrar forças para seguir em frente. Um pai destruído pela dor, que não esperava ver seu filho partir dessa forma. Um filho de 16 anos que não terá a companhia e nem o apoio de um pai que deveria ser seu herói. E um menino, enteado de apenas 9 anos, que o amava apesar das circunstâncias e que infelizmente, presenciou uma situação que jamais deveria ter feito parte de sua infância. Agora, nosso maior compromisso é cuidar dele, oferecendo-lhe o suporte e o amor necessários para que ele possa, com o tempo, superar essa experiência tão traumática.

Pedimos à comunidade que nos ajude respeitando nossa dor e nos permitindo viver este momento de luto sem julgamentos. As circunstâncias e as escolhas feitas nos trouxeram até aqui, mas, mais do que nunca, é necessário que possamos ter um espaço para reconstruir o que foi destruído.

Desejamos que essa tragédia possa servir de alerta para todos, lembrando-nos da importância de oferecer apoio a quem se vê envolvido em relacionamentos marcados pela dor, pelo abuso e pela dependência emocional. Pedimos também que possamos refletir sobre os ciclos de violência, e que sejamos mais capazes de identificar sinais de sofrimento e ajudar quem está preso em situações difíceis, mesmo quando as pessoas envolvidas se recusem a serem ajudadas.

Nossa esperança é de que esse triste episódio inspire mais diálogo e menos violência. Neste momento, tudo o que pedimos é paz para que possamos dar o próximo passo, apoiar os que ainda estão entre nós e, principalmente, cuidar de quem ainda tem um futuro a viver.

Agradecemos pela compreensão e pedimos, uma vez mais, respeito à nossa dor e ao nosso luto.

Atenciosamente,

Familiares – 13/11/2024

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