Os recursos do 13º salário, que devem começar a cair nas contas dos trabalhadores agora no fim do mês, já têm destino certo para a maioria dos brasileiros: o pagamento de dívidas. A faxineira Maria do Rosário Campos, 40, não vê a hora de ver o benefício extra no orçamento. Mãe de dois meninos, um de 10 e outro de 5 anos, a faxineira usará o 13º para pagar parte das débitos que tem.
“Uma dívida no cartão de crédito, que era de R$ 500, se transformou em R$ 1.000 em menos de seis meses. Hoje, com os juros altos, eu escolho quais contas pagar, e compro comida”, conta ela.
Segundo uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), pagar contas atrasadas e quitar dívidas serão prioridades para 25,77% dos entrevistados. Logo na sequência, o pensamento no futuro foi apontado por 18,56% de quem pretende poupar para outros fins.
Para Thaize Martins, coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento do Ipead, planejamento é a palavra-chave para quem quer começar o ano sem sufoco. “Pagar contas atrasadas e quitar dívidas é o mais recomendado. O ideal é que o recurso extra seja usado para sair de dívidas de cartão de crédito e cheque especial, que têm juros muito altos”, recomenda ela.
A dica do educador financeiro Sandro Borges é organizar o orçamento, listar ganhos e gastos, cortar o desnecessário e, sempre que possível, poupar. Segundo ele, mesmo que o trabalhador use o dinheiro para pagar dívidas, deve existir muito planejamento. “É preciso ter em mente que não se pode começar o ano novo endividado”, aconselha.
“É importante lembrar dos gastos de janeiro: impostos, como o IPTU e IPVA, e o material escolar dos filhos. Adiantar parcelas de automóveis e imóveis também não é uma boa opção (para o 13º), porque não é algo que vai surtir muito efeito nas parcelas seguintes. Além disso, a melhor escolha econômica é poupar. É fundamental fazer disso um hábito”, completa.
A operadora de telemarketing Luciara Amaral, 34, está mais precavida neste ano. “Consegui me planejar bem. Então, vou comprar presentes e artigos de necessidades do meu filho de cinco meses”, disse.
Pesquisa revela que 25% dos brasileiros vão poupar o recurso
Se 25% dos trabalhadores vão usar o 13º para pagar dívida, 27% utilizar o dinheiro extra em aplicações financeiras, como a poupança. Outros 23% pretendem gastar com presentes de Natal, segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito). O estudo, feito nas 27 capitais do país, ainda revela que 16% vão gastar o 13° salário durante as festividades de Natal e Ano Novo e outros 13% vão pagar despesas essenciais da casa, como contas de água e luz.
Na avaliação da economista da CDL-BH, Ana Paula Bastos, é importante lembrar de não dividir o pagamento dos presentes em muitas parcelas para não sobrecarregar o orçamento com as contas de início de ano, além de pesquisar bastante para conseguir bons descontos e condições vantajosas. “A instabilidade e a incerteza impacta na economia até de quem vai receber ou não o recurso, porque as pessoas ficam receosas em consumir. O cliente inadimplente não é bom nem para o comerciante, já que ele sai do mercado consumidor ou tem seu poder de compra reduzido”, disse.
Nome sujo
Balanço. Em setembro, 62,4 milhões de brasileiros estavam inadimplentes – número quase 4% maior do que o registrado há um ano, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas.
Calendário
Prazos. O pagamento do 13º salário geralmente é feito em duas parcelas. Por lei, a primeira deve ser depositada até 30 de novembro. O prazo máximo para a empresa depositar a segunda é no dia 20 de dezembro. Quem trabalhou o ano todo ganha um salário cheio. Aqueles que foram contratados ao longo do ano vão receber um valor proporcional ao tempo de empresa. Para aposentados e pensionistas do INSS, a primeira parcela do 13º foi paga entre agosto e setembro. Já segunda parcela começa a ser paga nesta terça-feira, dia 27.
Sem Benefício
Extra. Neste ano, o 13º salário não será realidade para 53,81% dos belo-horizontinos, segundo pesquisa do Ipead-BH. A incerteza sobre o pagamento do benefício aflige também os servidores do Estado mais um ano. De acordo com a Secretaria de Estado de Fazenda, todas as questões relativas ao benefício ainda serão discutidas em reunião que ainda não tem data marcada. A taxa de desemprego no país é de quase 12%. Ou seja, mais de 40 milhões de trabalhadores brasileiros economicamente ativos não terão o 13º.