Seis mulheres são mortas em apenas 11 dias em Minas Gerais

Era mais de 1h da madrugada dessa segunda-feira (14) quando um menino de 11 anos ligou para a Polícia Militar pedindo ajuda. Ele queria salvar a mãe, Laís Patrícia de Souza, 29, que estava sendo agredida pelo companheiro, Liniker Nascimento de Almeida, 29, dentro de casa, em Contagem, na região metropolitana de BH. Laís conseguiu ser socorrida, e o suspeito foi preso. Mas, duas horas depois e a cerca de 20 km dali, na região da Pampulha, na capital, Aldenir Luz de Azevedo, 36, foi espancada pelo marido, Niumar Cardoso de Sá, 42, e acabou morrendo. Ele fugiu e, até o fechamento desta edição, não havia sido preso.

As vítimas fazem parte de uma estatística em ascensão neste ano: em 11 dias, foram registrados ao menos sete feminicídios tentados e seis consumados, segundo levantamento da reportagem (veja abaixo).

A discussão entre Laís e o companheiro começou após uma ida ao bar de Almeida. O homem foi para casa bêbado e, quando chegou, arremessou móveis e uma faca contra a companheira e duas crianças. Ela se trancou com os filhos no banheiro, mas ele quebrou a janela do cômodo. Laís foi ferida pelo cabo da faca e levada para o hospital.

Já Aldenir foi espancada após uma briga com o companheiro. Ela chegou a pedir ajuda aos vizinhos, para quem o suspeito mandou o recado: “se alguém se intrometesse, iria se ver com ele”. O homem continuou batendo na mulher, e, após algum tempo, ela correu para dentro da casa e colocou fogo no imóvel. As chamas se alastraram rapidamente, e a mulher morreu carbonizada.

Análise. Em 2018, a Polícia Civil registrou 156 feminicídios consumados no Estado. O número cresceu 13% em relação a 2016, quando foram contabilizados 138 casos. No ano passado, houve ao menos 277 feminicídios tentados em Minas.

Para a delegada da Polícia Civil Fabíola Oliveira, o desprezo da condição feminina é o que causa essas mortes: “O que percebemos é que existe muita dependência das vítimas. Até por isso é difícil o distanciamento do agressor. Denunciar é fundamental”. (Com Mariana Nogueira e Michleyne Kubitschek)

Delegacias. Minas tem 72 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams). Nas demais cidades, o registro da ocorrência pode ser feito na delegacia de área.

Ajuda. A Polícia Civil lançou recentemente o app Alerta MG, que permite que vítimas de violência procurem socorro de forma rápida. 

Atendimento. A PM faz policiamento preventivo à violência doméstica com militares treinados. Em 2018, foram 42 prisões de autores monitorados.

Minientrevista

Ana Claúdia Braga
Defensora pública do Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher em Situação de Violência Doméstica de Contagem


Quais situações podem ser consideradas abusivas e o que fazer?

Até por uma questão cultural, as mulheres suportam relacionamentos em razão de um amor que elas consideram incondicional e suportam violências diárias. Não existe amor incondicional. Amor tem que ter condições de respeito. Na maioria das vezes, o relacionamento começa harmonioso, e, depois, a pessoa se torna possessiva, que controla o horário e as roupas.

O que diz a Lei Maria da Penha?

Além da violência física, ela trata das violências psicológica, patrimonial, sexual e moral. São humilhações, xingamentos, diminuição da autoestima e comentários pejorativos em relação à beleza e à profissão. São vários tipos de violência.

Qual a importância da lei?

A lei elencou os homicídios contra a mulher como qualificados e os tratou como hediondos. O crime tem a pena agravada, podendo ser de 12 a 30 anos. A progressão do regime também é dificultada.

Que medidas podem ser tomadas?

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 Minas Gerais tem recorde de processos relacionados a feminicídio

As mulheres têm que saber seu valor e ter noção do que é um relacionamento abusivo. É preciso ensinar aos filhos os limites de uma relação. É uma questão que deveria ser abordada nas escolas.
 

CASOS

Quinta-feira (3)

Perseguida há quase um ano pelo ex-companheiro, jovem é atropelada por um carro em alta velocidade e prensada contra um muro, em Uberlândia, no Triângulo. Sexta-feira (4) Soldado da PM mata a companheira em Nova Lima, na região metropolitana de BH. Ele ainda atirou contra o tio dela e se matou.

Sábado (5)

1) Adolescente de 13 anos é esfaqueada ao fugir de uma tentativa de estupro, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana.

2) Vigia noturno da Prefeitura de Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha, mata a ex-mulher a tiros, além de atirar e esfaquear a ex-sogra e a ex-cunhada.

Domingo (6)

Homem de 32 anos mata com golpes de facão a ex-companheira, de 22 anos, em Francisco Sá, no Norte de Minas.

Quarta-feira (9)

1) Homem de 38 anos agride a mulher com uma panela de pressão e um pedaço de pau, em Uberaba, no Triângulo.

2) Jovem de 21 anos é roubada e estuprada na frente dos filhos em
Campos Altos, no Alto Paranaíba.

3) Advogado de 39 anos agride a companheira no estacionamento de um supermercado em Varginha, no Sul de Minas.

Quinta-feira (10)

Milena Siqueira, de 37 anos, é assassinada com um tiro no tórax pelo ex-companheiro, em Formiga, no Centro-Oeste do Estado. O homem também atirou na filha dela, uma adolescente de 17 anos, e se matou.

Quinta-feira (10)

Gilvane Paula Agostinho, de 38 anos, grávida de sete meses, morre após ser esfaqueada pelo ex-marido, em Esmeraldas, na região metropolitana de BH. O bebê também morreu.

Domingo (13)

1) Mulher de 31 anos é esfaqueada por ex-companheiro em Claro dos Poções, no Norte de Minas.

2) Mulher de 36 anos é espancada pelo marido e morre após a casa do casal pegar fogo, na região da Pampulha, em BH.

Segunda-feira (14)

Homem de 29 anos tenta matar a companheira, também de 29, na frente dos dois filhos dela, em Contagem, na região metropolitana. Uma das crianças, de 11 anos, ligou para a PM para pedir socorro.

VIARedação
FONTEO Tempo
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