Fantasma do lockdown assombra três regiões de Minas com alta incidência da COVID-19

Taxas elevadas de casos e mortes por 100 mil habitantes e ocupação crítica de leitos põem as macrorregiões de saúde do Vale do Aço, Triângulo Norte e Sudeste na berlinda

Leitos para COVID-19: elevação de casos já provoca pressões no sistema público de saúde de Minas, que registrava ocupação de 88,4% das vagas de UTI
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press – 8/5/20)

Com a curva ascendente de novos casos e mortes por COVID-19 em Minas Gerais – já são 26.052 infectados e 600 óbitos confirmados –, o governo estadual já iniciou estudos para decretar o isolamento total – o lockdown – em determinadas regiões. Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) atualizados até ontem e analisados pela reportagem, três macrorregiões de saúde estão em situação mais grave: Vale do Aço, Triângulo do Norte e Sudeste. As cidades dessas áreas registram as maiores incidências de casos e mortes a cada 100 mil habitantes no estado (veja quadro). Além disso, a ocupação de leitos no sistema de saúde – uma das métricas usadas pelas autoridades para decidir sobre o isolamento social – é alta ou total. Só entre ontem e quinta-feira, o estado confirmou 1.146 novos casos e 30 mortes.

A possibilidade de lockdown, já admitida na quinta-feira pelo secretário de estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, voltou a ser mencionada ontem, dessa vez pelo chefe de gabinete do órgão de saúde, João Pinho. “Estamos em momento um pouco complicado, com aumento expressivo de ocupação de leitos e marca histórica de óbitos. O Minas Consciente foi lançado, mas alguns municípios não seguiram as orientações, optaram por outras iniciativas, é uma prerrogativa deles, mas acabou ocorrendo aceleração da pandemia. Então, há cerca de 10 dias estamos debatendo com a polícia, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil a criação de protocolo para lockdown, caso seja necessário. Não é para todo o estado, mas para alguns locais. Esperamos não precisar de usá-lo, mas se houver piora, infelizmente a gente pode ter de recomendá-lo ou até ser mais incisivo”, afirmou.
Para orientação do processo de reabertura do comércio das 14 macrorregiões de saúde de Minas Gerais, a administração estadual avalia critérios epidemiológicos, econômicos e estruturais do sistema de saúde. Entram na análise parâmetros como taxa de transmissão do vírus (Rt), incidência de casos, índice de isolamento social e ocupação de leitos clínicos e de UTI.


Na quinta-feira, a preocupação do Executivo estadual já havia ficado clara com o anúncio de mudanças de faixa de duas regiões dentro das orientações programa Minas Consciente sobre a reabertura do comércio.  A macrorregião Centro voltou para a chamada onda verde, quando somente os serviços essenciais podem funcionar. A Região Norte recuou da onda amarela para a branca, de mais restrição. No planejamento do governo, 510 municípios estão na onda verde, 290 na branca e 53 na amarela. Das 853 cidades mineiras, porém, apenas 151 (17,7%) aderiram ao plano.
No começo de junho, em entrevista à CNN Brasil, o governador Romeu Zema já admitia a possibilidade de lockdown no Vale do Aço, onde moram cerca 840 mil pessoas. “Estamos aqui, com a lupa, acompanhando o Vale do Aço, Ipatinga e cidades vizinhas. Nos preocupa muito o grande crescimento de casos”, afirmou. Ontem, segundo a SES, não havia leitos de terapia intensiva disponíveis para tratamento de COVID-19 no sistema público de saúde da região. Todas as 150 UTIs estavam ocupadas. Já a ocupação de leitos de enfermaria é de 72%: estavam desocupadas  92 das 331 vagas.


Nova etapa

A Secretária de Saúde contabilizava até ontem 1.831 casos e 51 mortes pelo novo coronavírus no Vale do Aço. A cada 100 mil habitantes, 218 foram comprovadamente infectados. A incidência de óbitos é a maior do estado: seis para cada 100 mil habitantes. O município mais afetado é Ipatinga, com 803 casos e 26 mortes. Ontem, começou uma nova etapa de reabertura do comércio na cidade, com lojas e feiras podendo funcionar com horário reduzido. A orientação do governo estadual, por meio do Minas Consciente, é que apenas os serviços essenciais funcionem. Coronel Fabriciano registra 344 casos e uma morte, enquanto Santana do Paraíso tem 178 casos e quatro óbitos.

Na macrorregião de Saúde Triângulo do Norte, não há leitos de UTI e clínicos no sistema público disponíveis para tratamento de COVID-19. De acordo com a SES, as 256 UTIs e os 754 leitos de enfermaria estavam ocupados ontem. A região tem cerca de 1,3 milhão de habitantes e registra 3.039 casos e 61 mortes. A incidência de casos por 100 mil pessoas é a maior do estado (234), enquanto a de óbitos chega a 4,7. Uberlândia lidera, com 2.659 casos e 51 mortes. Já Araguari registra 122 casos e uma morte, enquanto Patrocínio contabiliza 47 casos e três óbitos. A recomendação do governo estadual para essas cidades, por ora, também é de manter somente os serviços essenciais funcionando.


As incidências de casos e mortes por 100 mil pessoas na macrorregião Sudeste também estão entre as maiores no estado. A SES confirmava até ontem 2.554 casos e 87 mortes, em uma região onde moram mais de 1,6 milhão de pessoas. A cada 100 mil delas, 153, em média, foram infectadas pelo coronavírus e 5,2 morreram de COVID-19.
Já a ocupação de leitos é menor que a das outras macrorregiões, mas também é alta, especialmente para pacientes em estados mais graves. De acordo com a SES, das 355 UTIs, 325 estão ocupadas, enquanto 905 dos 1.585 leitos clínicos estão livres. As ocorrências da doença no Sudeste se concentram em Juiz de Fora, que tem 955 casos e 39 mortes, bem como Muriaé – 448 casos e 13 óbitos – e Carangola, com 135 casos e quatro óbitos.

Apesar de não estar entre as regiões com maior incidência por 100 mil habitantes, a macrorregião Centro, que abriga a Região Metropolitana de Belo Horizonte, contabiliza os maiores números absolutos de casos e mortes. Até ontem, a SES contava 9.102 casos e 187 óbitos na região, que tem maior concentração populacional de Minas, de mais de 6,5 milhões de pessoas. A incidência média de casos a cada 100 mil habitantes é de 138 e de mortes de 2,8. E há pressão na disponibilidade de leitos (leia abaixo). A Região Metropolitana de BH concentra os números na região. A pasta estadual de Saúde calculava até ontem 3.879 casos e 90 mortes na capital. Contagem tem 746 casos e 29 mortes, e Betim registra 457 casos e 18 óbitos. De acordo com a recente mudança no Minas Consciente, as cidades da Região Central devem manter apenas os serviços essenciais funcionando. A adesão ao programa, entretanto, não é obrigatória. *Estagiário sob supervisão da subeditora Rachel Botelho


O que é o coronavírus

Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.

FONTEEstado de Minas
COMPARTILHAR

SEM COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA