Minas confirma morte por raiva humana após 10 anos sem registro da doença

Minas Gerais confirmou nesta segunda-feira (11) que um adolescente indígena de 12 anos morreu em decorrência da raiva humana. É o primeiro óbito da doença nos últimos 10 anos, já que o anterior havia sido registrado em 2012.

A raiva humana preocupa porque, geralmente, 100% das pessoas infectadas não resistem à enfermidade. Por isso, as autoridades de saúde do Estado estão em alerta máximo. Além da morte do menino, um segundo caso, de uma adolescente indígena, ainda está em investigação. Os dois jovens moravam em uma tribo em Bertópolis, na região do Vale do Mucuri.

O adolescente que teve a morte atestada por raiva humana foi mordido por um morcego na segunda quinzena de março, e deu entrada em um hospital de Teófilo Otoni em 3 de abril. A SES foi notificada do óbito no dia 4. Desde então, o caso estava sendo investigado.

“A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informa que foi confirmado por exame laboratorial um caso de raiva humana em um paciente de 12 anos, do sexo masculino”, declarou a pasta.

Moradora do mesmo local do adolescente, uma indígena de 12 anos está com suspeita da doença também após ser mordida por um morcego. Ela está internada em um hospital de Belo Horizonte. “O quadro da paciente é estável, com evolução positiva. Foi coletada amostra para exame laboratorial e aguarda-se o resultado”, detalhou a SES.

Para os moradores da região que tiveram contato com os adolescentes ou com morcegos ou outros mamíferos silvestres ou domésticos, inclusive, cães e gatos, a Secretaria de Saúde reforça a importância de procurar a unidade de saúde mais próxima para avaliação da necessidade de adoção de medidas profiláticas (administração de vacina e/ou soro).

Força-tarefa

Desde que foi notificada sobre os casos suspeitos da doença, a SES informou o Ministério da Saúde. Além disso, está fazendo a busca ativa de pessoas que tiveram contato com os adolescentes e encaminhando para atendimento médico profilático. Desde o dia 9, todos os 1.100 moradores da zona rural de Bertópolis estão sendo vacinados.

Além disso, cães e gatos da região estão sendo levados para vacinação antirrábica. No total, 100 doses foram disponibilizadas para a região. O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) também foi acionado, e está ajudando a SES a executar ações de captura e manejo de morcegos.

“A SES informa que o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realiza investigação epidemiológica na região, para verificar espoliações de morcegos em animais de produção, presença ou relato de mortes de animais com sinais clínicos neurológicos, bem como informações sobre a realização de vacinação antirrábica. Foram realizados contatos com produtores rurais, informando sobre as formas de prevenção da raiva dos herbívoros”, explicou.

Confira abaixo todas as medidas que estão sendo seguidas:

– Notificação e investigação dos dois casos suspeitos, bem como comunicação imediata ao Ministério da Saúde;

– Investigação epidemiológica imediata dos dois casos. A investigação é realizada na localidade de ocorrência da exposição dos casos suspeitos, com busca ativa de pessoas que possam ter tido a mesma situação de risco dos casos suspeitos; e em seguida com o encaminhamento para atendimento médico profilático na localidade;

– Organização de reuniões periódicas para alinhamento e planejamento das ações de investigação dos casos e medidas de prevenção e controle da raiva, juntamente com a Secretaria Municipal de Saúde de Bertópolis, já ocorridas, nos dias 6, 7 e 8 de abril de 2022;

– Organização e realização de reuniões com a equipe médica local, da SES-MG e do Ministério da Saúde para alinhamento das condutas dos atendimentos antirrábicos na localidade (8 de abril de 2022);

– Disponibilização de imunobiológicos para o tratamento profilático antirrábico humano (pós-exposição e pré-exposição, conforme o caso (vacina antirrábica e soro antirrábico);

– Organização e monitoramento de vacinação dos contactantes do primeiro caso para início imediato no dia 9 de abril;

– Organização e monitoramento de vacinação de pré-exposição para todos os moradores da localidade rural, totalizando em torno de 1.100 moradores, para início no dia 9 de abril de 2022;

– Disponibilização de 100 doses de vacina antirrábica animal para vacinação antirrábica de cães e gatos da localidade, conforme a população animal estimada para a área. A vacinação está sendo realizada na localidade, com objetivo de imunizar cães e gatos e com isso, implementar ações de prevenção e controle da doença. Está sendo realizada pelos agentes de Endemias da Secretaria Municipal de Saúde de Bertópolis com início em 06 de abril de 2022;

– Monitoramento das ações de campo desenvolvidas pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) para ações de prevenção e controle da raiva na localidade. O IMA está na região e realiza investigação epidemiológica para verificar espoliações de morcegos em animais de produção, presença ou relato de mortes de animais com sinais clínicos neurológicos, bem como informações sobre a realização de vacinação antirrábica nesses animais. Também foi realizado contato com produtores rurais, informando sobre as formas de prevenção da raiva dos herbívoros;

– Realização de ações de educação em saúde na região com objetivo de alertar as pessoas sobre a doença, e suas formas de transmissão, bem como as medidas de prevenção e controle da raiva;

– Organização e realização de Webinar para profissionais de saúde do estado de Minas Gerais sobre atualização do atendimento antirrábico humano agendado para dia 19 de abril de 2022.

Confira abaixo todas as medidas que estão sendo seguidas:

  • Notificação do caso suspeito ao Ministério da Saúde;
  • Orientação quanto a coleta de amostras biológicas;
  • Solicitação de envio de relatório de investigação preliminar;
  • Investigação na localidade de ocorrência da exposição com busca ativa de pessoas que tiveram contato com o caso suspeito e encaminhamento para atendimento médico profilático;
  • Contato com o Instituto Mineiro de Agropecuária para ações cabíveis;
  • Vacinação antirrábica de cães e gatos da localidade – bloqueio focal;
  • Divulgação do caso na região com objetivo de alertar as pessoas sobre as formas de transmissão e prevenção da raiva.

CONFIRA ABAIXO INFORMAÇÕES DO MINISTÉRIO DA SAÚDE SOBRE A RAIVA:

Como a raiva é transmitida?
A raiva é transmitida ao homem pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da mordedura, podendo ser transmitida também pela arranhadura e/ou lambedura desses animais.

O período de incubação é variável entre as espécies, desde dias até anos, com uma média de 45 dias no ser humano, podendo ser mais curto em crianças. O período de incubação está relacionado à localização, extensão e profundidade da mordedura, arranhadura, lambedura ou tipo de contato com a saliva do animal infectado; da proximidade da porta de entrada com o cérebro e troncos nervosos; concentração de partículas virais inoculadas e cepa viral.

Nos cães e gatos, a eliminação de vírus pela saliva ocorre de 2 a 5 dias antes do aparecimento dos sinais clínicos e persiste durante toda a evolução da doença (período de transmissibilidade). A morte do animal acontece, em média, entre 5 e 7 dias após a apresentação dos sintomas.

Não se sabe ao certo qual o período de transmissibilidade do vírus em animais silvestres. Entretanto, sabe-se que os quirópteros (morcegos) podem albergar o vírus por longo período, sem sintomatologia aparente.

Quais são os sintomas da raiva?
Após o período de incubação, surgem os sinais e sintomas clínicos inespecíficos da raiva, que duram em média de 2 a 10 dias. Nesse período, o paciente apresenta:

– mal-estar geral;
– pequeno aumento de temperatura;
– anorexia;
– cefaleia;
– náuseas;
– dor de garganta;
– entorpecimento;
– irritabilidade;
– inquietude;
– sensação de angústia.
– Podem ocorrer linfoadenopatia, hiperestesia e parestesia no trajeto de nervos periféricos, próximos ao local da mordedura, e alterações de comportamento.

Quais são as complicações da raiva?
A infecção da raiva progride, surgindo manifestações mais graves e complicadas, como:

– ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes;
– febre;
– delírios;
– espasmos musculares involuntários, generalizados, e/ou convulsões.
– Espasmos dos músculos da laringe, faringe e língua ocorrem quando o paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando sialorreia intensa (“hidrofobia”).
– Os espasmos musculares evoluem para um quadro de paralisia, levando a alterações cardiorrespiratórias, retenção urinária e obstipação intestinal. Observa-se, ainda, a presença de disfagia, aerofobia, hiperacusia e fotofobia.

IMPORTANTE: O paciente se mantém consciente, com período de alucinações, até a instalação de quadro comatoso e a evolução para óbito. O período de evolução do quadro clínico, depois de instalados os sinais e sintomas até o óbito, é, em geral, de 2 a 7 dias.

Como é feito o diagnóstico da raiva?
A confirmação laboratorial em vida, ou seja, o diagnóstico dos casos de raiva humana, pode ser realizada pelo método de imunofluorescência direta, em impressão de córnea, raspado de mucosa lingual ou por biópsia de pele da região cervical (tecido bulbar de folículos pilosos).

A sensibilidade dessas provas é limitada e, quando negativas, não se pode excluir a possibilidade de infecção. A realização da autópsia é de extrema importância para a confirmação diagnóstica.

Diagnóstico diferencial

Não existem dificuldades para estabelecer o diagnóstico quando o quadro clínico vier acompanhado de sinais e sintomas característicos da raiva, precedidos por mordedura, arranhadura ou lambedura de mucosas provocadas por animal raivoso ou suspeito. Esse quadro clínico típico ocorre em cerca de 80% dos pacientes.

No caso da raiva humana transmitida por morcegos hematófagos, cuja forma é predominantemente paralítica, o diagnóstico é incerto e a suspeita recai em outros agravos que podem ser confundidos com raiva humana. Nesses casos, o diagnóstico diferencial deve ser realizado com: tétano; síndrome de Guillain-Barré, pasteurelose, por mordedura de gato e de cão; infecção por vírus B (Herpesvirus simiae), por mordedura de macaco; botulismo e febre por mordida de rato (Sodóku); febre por arranhadura de gato (linforreticulose benigna de inoculação); encefalite pós-vacinal; quadros psiquiátricos; outras encefalites virais, especialmente as causadas por outros rabdovírus; e tularemia.

Cabe salientar a ocorrência de outras encefalites por arbovírus e intoxicações por mercúrio, principalmente na região Amazônica, apresentando quadro de encefalite compatível com o da raiva. É importante ressaltar que a anamnese do paciente deve ser realizada junto ao acompanhante e ser bem documentada, com destaque para sintomas inespecíficos, antecedentes epidemiológicos e vacinais. No exame físico, frente à suspeita clínica, observar atentamente o fácies, presença de hiperacusia, hiperosmia, fotofobia, aerofobia, hidrofobia, relatos de dores na garganta, dificuldade de deglutição, dores nos membros inferiores, e alterações do comportamento.

Como é feito o tratamento da raiva?
A raiva é uma doença quase sempre fatal, para a qual a melhor medida de prevenção é a vacinação pré ou pós exposição. Quando a profilaxia antirrábica não ocorre e a doença se instala, pode-se utilizar um protocolo de tratamento da raiva humana, baseado na indução de coma profundo, uso de antivirais e outros medicamentos específicos.

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