Pesquisadores desenvolvem projeto social de combate à fome em Sete Lagoas

Foto: Tecle Mídia

Grupo de pesquisa The Together Trial, que se destacou no estudo de medicamentos para tratar a doença durante a pandemia, se volta agora para projetos sociais de combate à fome. A notícia foi dada pelos membros do grupo em audiência pública da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na manhã desta quarta-feira (5/6/24).

O grupo estudou 13 medicamentos, inclusive os polêmicos cloroquina e ivermectina, que à época eram defendidos pelo então presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). De acordo com o médico Gilmar Reis, um dos responsáveis pelas pesquisas, foram feitos testes clínicos com metodologias inéditas no Brasil.

Os resultados demonstraram que a cloroquina e a ivermectina não funcionavam e esses foram os primeiros ensaios clínicos sobre esses remédios publicados no mundo. Por outro lado, foram encontrados resultados positivos com redução das internações e dos óbitos com outros medicamentos, como um antidepressivo testado, conforme contou Gilmar Reis.

Reconhecido internacionalmente, o trabalho do grupo, formado por 19 pesquisadores mineiros, ganhou o prêmio David Sackett, um dos mais importantes do mundo na área, em 2021. Segundo o convidado, foram publicados artigos nas principais revistas científicas de medicina do mundo e alguns deles são hoje os mais citados em trabalhos na área.

Passada a pandemia, os pesquisadores decidiram criar uma associação sem fins lucrativos para possibilitar parcerias com o poder público. Batizada de The Together Trial, a instituição agora vai se voltar para o problema da fome.

Segundo Gilmar Reis, eles observaram que os estudos sobre a questão tratam de melhorias nutricionais a partir de alguns alimentos, mas eles se voltaram para ganhos também cognitivos.

Os pesquisadores vão começar então os projetos Alimentando Sonhos, voltado para as crianças, e Viver Mais, com foco nos idosos. A ser sediado no Município de Sete Lagoas, serão construídas miniusinas de beneficiamento da soja e da biomassa de banana, além de uma padaria para produzir alimentos diversificados com esses ingredientes.

A planta e o projeto executivo dessas estruturas já estão prontas e agora o grupo aguarda aprovação do poder municipal. Eles pretendem atender e acompanhar 2 mil crianças e mil idosos, bem como suas famílias, para avaliar o impacto cognitivo da introdução desses alimentos. Como explicou Gilmar Reis, tratam-se de projetos sociais com implicações acadêmicas.

Uma das perspectivas do grupo é conseguir o apoio do poder público para ampliar o trabalho para outros municípios. O deputado Enes Cândido (Republicanos), autor do requerimento que deu origem à reunião, se comprometeu em intermediar conversas com o Poder Executivo para ajudar a construir parcerias nesse sentido.

Convidados defendem financiamento e interiorização das pesquisas

Também estiveram presentes na reunião outros membros do The Together Trial. Eles contaram um pouco da experiência durante a pandemia. O médico Adhemar Dias Neto destacou a importância de se realizar o estudo em municípios menores, não em metrópoles. Ele exemplificou com Governador Valadares, uma das cidades mineiras que recebeu o estudo clínico.

A escolha fez com que o município recebesse tecnologias inovadoras, como aferidores de frequência cardíaca pequenos, até então não disponíveis no Brasil. Depois da pesquisa, 100 desses ficaram no município, segundo ele. Além disso, a classe médica local recebeu treinamentos para lidar com a Covid-19.

Outro ponto levantado foi a necessidade de se ampliar recursos para a pesquisa. De acordo com o médico Leonardo Cançado, foi necessário buscar financiamento em outros países para realizar os testes clínicos. No caso, os recursos vieram do Canadá. “Pesquisa é questão de soberania nacional e precisamos lançar um olhar sério sobre isso”, disse.

Nesse sentido, Fabiano Valentim, representante na reunião da Fapemig, agência mineira de fomento à pesquisa, destacou que durante a pandemia foram lançados dois editais específicos para financiamento de estudos sobre a Covid-19. Ao todo, 160 projetos foram apoiados, de forma que foram distribuídos R$ 25 milhões.

Além do financiamento direto dos estudos, Fabiano Valentim lembrou que vários deles aconteceram em laboratórios e estruturas previamente financiadas pela Fapemig e outras agências de fomento. O convidado ressaltou que as pesquisas precisam ser viabilizadas de forma contínua e não apenas em resposta a crises esporádicas.

Os deputados Doutro Wilson Batista (PSD) e Doutor Paulo (Patriota) parabenizaram os pesquisadores.

VIARedação
COMPARTILHAR

SEM COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA