A história dos 150 anos da imigração italiana contada a partir de um personagem, o escritor, cronista, editor e documentarista ítalo-descendente Fernando Sabino, considerado um dos principais cronistas brasileiros que, ao lado dos amigos Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos, formou um quarteto literário que marcou a história editorial de Belo Horizonte.
É a partir desta perspectiva que Bernardo Sabino, filho do consagrado autor, planeja uma série de projetos e participa do Festival de História (fHist), que, em sua 8ª edição, celebra justamente a centenária e frutífera comunhão ítalo-brasileira, com atividades e atrações se desenrolando a partir desta quinta-feira (28), nos jardins do Palácio das Artes e Teatro João Ceschiatti.
Bernardo explica que, além da origem italiana de sua família, seu pai se relacionou com o país ao longo da vida, seja por meio de viagens ou relações literárias. Um exemplo, cita, está na aproximação entre o texto do autor de clássicos como “O Homem Nu” com a obra do italiano Ítalo Calvino. Esse elo, aliás, foi debatido por Wander Melo Miranda, professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (Fale/UFMG), no ano passado, quando foi celebrado o centenário de ambos os escritores, cujos trabalhos guardam similaridades, como a forma de expor o cotidiano com humor e crítica social nas obras “Le Cosmicomiche”, do italiano, e “A Cidade Vazia”, do mineiro.
“É uma história tão rica que, no futuro, queremos contá-la em um documentário e uma exposição, que vão falar da chegada dos italianos no Brasil tendo como exemplo a origem da família Sabino”, detalha Bernardo, acrescentando que outros projetos estão em vista, como a tradução de um dos títulos de seu pai para o italiano. “Também queremos legendar um dos filmes dele e lançar na Itália, junto desse livro”, explica, ao descrever um efervescente contexto de releitura da obra de Fernando Sabino que surge como plano de fundo de sua participação no fHist, onde se apresenta na sexta-feira (29), às 17h.
No evento, mais que um olhar teórico, Bernardo projeta uma conversa descontraída, recheada de imagens do pai durante viagens para a Itália e declamações de textos dele. E o herdeiro do cronista não estará sozinho. Nesta homenagem, ele é acompanhado pelo cantor, compositor, escritor e multi-instrumentista italiano Alberto Lombardi, radicado em Belo Horizonte há 11 anos, que vai executar no violão um pot pourri de clássicos italianos, canções autorais, além de interpretar trechos de obras de Fernando Sabino.
Roteiros da imigração
Se é possível falar da imigração italiana a partir da história de uma família, pode-se também percorrer o tema adentrando os “Roteiros Nacionais da Imigração”. É este o intuito de uma das mesas da edição especial do fHist dedicada às conexões ítalo-brasileiras, que se estende até sábado (30).
Também programada para sexta-feira (29), às 16h30, a atividade conta com a presença da historiadora Vitória Fonseca, professora da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha (UFVJM). Ela detalha que o título da mesa está relacionado ao trabalho realizado, junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por Dalmo Vieira Filho, arquiteto e autor dos livros “Roteiros Nacionais de Imigração – Santa Catarina” e “O patrimônio do imigrante”, que também participa do bate-papo no festival.
“Em minha participação, apresentarei o projeto ‘Histórias em Redes’ que tem uma relação direta com a construção de roteiros históricos turísticos. Assim, a mesa trará este aspecto da construção de possibilidades turísticas, mas, ao mesmo tempo, pedagógicas, na construção de visibilidades para temáticas que costumam ter acesso limitados quando se restringem a pesquisas que ficam nas universidades, ou circulam em meios específicos”, informa Vitória, acrescentando que, assim, a construção de visibilidades via roteiros turísticos de temáticas variadas possibilitam o acesso às pesquisas historiográficas de maneira mais direta, além de abrir espaço para criação e movimentação de um mercado.
A historiadora, diga-se, reconhece ter recebido o convite com um misto de alegria, satisfação e preocupação – “já que é uma grande responsabilidade participar de um evento de tal envergadura na condição de palestrante”. “Estou ansiosa pelo evento e pela riqueza de possibilidades de aprendizados e interações, principalmente em relação às atividades que, como sempre, são organizadas com muito cuidado e qualidade”, expõe.
Mais debates e atrações
Além de realizar homenagens e mesas-redondas temáticas, discutindo, além das rotas da imigração, aspectos que vão da invenção de Belo Horizonte à história da produção de café, a programação do fHist conexões ítalo-brasileiras inclui atividades práticas, como demonstrações culinárias e workshops de língua italiana e aulas de esgrima histórica italiana.
ruto de uma parceria entre o Consulado Geral da Itália em Belo Horizonte, a Câmara do Comércio Italiana em Minas Gerais e o jornalista Américo Antunes, idealizador e organizador do fHist, com apoio da Sada, o festival ainda contempla um programa cultural, com espetáculos cênicos, como a apresentação de teatro de marionetes da Fundação Torino, e musicais, caso dos shows do grupos Música Figurata e Viva Napoli.
Mais um destaque é a feira gastronômica, que, realizada na sexta (29) e sábado (30), conta com participação da casa de doces Mole Antonelliana, uma das mais tradicionais de BH, da Aromi Toscani, que apresenta a culinária tradicional italiana e antigas receitas de “famiglia”, e da importadora de vinhos Liber Wines.
Já a Feira do Livro ocorre nos três dias do evento. Entre as autoras presentes está a psicanalista Cristina Gaoni Medioli, que lançou, no ano passado, o título “Versões do Corpo: um percurso na psicanálise e na arte”, descrito por ela como um percurso que sobre a identidade corporal que se constroi no simbólico e no imaginário do recém-nascido até a terceira idade. Cristina fará sessões de autógrafos na quinta e sexta, entre 18h e 19h, e no sábado, das 11h às 12h.
SERVIÇO:
O quê. 8º Festival de História (fHist): Conexões Ítalo-Brasileiras
Quando. Nesta quinta-feira (28), a partir das 18h; sexta (29) e sábado (30), a partir das 10h
Onde. Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1.537, centro)
Quanto. A entrada e as atividades são gratuitas. Programação completa e mais informações no site do Festival de História.
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