Vídeo mostra gerente de clínica em BH atendendo paciente como se fosse dentista

Dentistas que trabalham na clínica afirmam já ter visto os gerentes atendendo pacientes (Arquivo pessoal)

Gerentes da clínica odontológica Sorridents, em Belo Horizonte, atendem e tratam a pacientes mesmo sem ter formação. Funcionários das unidades denunciam a ação irregular de dois dos responsáveis pelas clínicas. Vídeo feito por uma funcionária mostra um deles, Tiago Laurindo, usando um equipamento odontológico em uma mulher dentro de um consultório. Procurados pelo BHAZ, eles negaram a prática.

Dois dentistas que trabalham na clínica – que tem unidades no Centro, no Barro Preto e no Barreiro – afirmam ter visto os gerentes Tiago Laurindo e Jefferson de Paula atendendo os pacientes como se fossem profissionais da equipe odontológica.

“Aqui, todo paciente que chega passa por uma triagem, uma avaliação para saber qual tratamento fazer. Eles [os gerentes] passam na frente e fazem essa avaliação, abrem a boca, fazem o tratamento, fazem raio X…”, conta um funcionário da rede Sorridents, que pediu para ter a identidade preservada.

O dentista conta que um dos pacientes da clínica já recebeu tratamento odontológico inadequado na Sorridents, já que o planejamento para o atendimento que deveria ser feito por um profissional teria sido formulado por Jefferson de Paula. O paciente precisou refazer todo o tratamento.

“A clínica prioriza a quantidade de atendimentos, e não a qualidade. Se um tratamento precisa ser feito em uma hora, marcam na agenda para meia hora”, diz um dos denunciantes.

Inabilitados

Uma busca pelos nomes dos dois gerentes das unidades de BH no registro do CRO-MG (Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais) não mostra nenhum resultado, evidenciando que eles não são habilitados para atuar como dentistas.

O artigo 282 do Código Penal brasileiro prevê como crime o exercício ilegal da profissão de médico, dentista ou farmacêutico, ou seja, o exercício “sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites”, ainda que a título gratuito.

A pena é de detenção de seis meses a dois anos. “Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa”, diz a legislação.

A Polícia Civil também informou que há ocorrências registradas contra a Sorridents por meio de ações penais públicas, a princípio por crime de estelionato. No entanto, elas ainda não são investigadas, já que os autores das ações precisam propor a representação criminal junto à polícia.

“A PCMG salienta a importância das vítimas procurarem uma unidade policial mais próxima para registrar os fatos e propor a devida representação criminal, conforme prevê a legislação, para dar prosseguimento à investigação”, diz nota da corporação.

Denúncias sobre possíveis profissionais em situação irregular podem ser feitas pelo site do CRO-MG (clique aqui) ou diretamente à Polícia Civil.

Gerentes negam

BHAZ conversou com Tiago Laurindo, que negou a prática, apesar de vídeo evidenciar o contrário e disse desconhecer as denúncias. Ele afirma que só atua nas clínicas acompanhando os atendimentos, e não tratando os pacientes.

“Acompanhar é uma coisa, atender, não. Eu acompanho porque sou gestor da clínica, acompanhar significa que eu posso estar em consultório com o dentista, acompanhar o procedimento, colocar uma luva por questão de higiene… Mas atender, não”, afirmou o gerente.

Jefferson de Paula, que está à frente das unidades da Sorridents em BH, Santa Luzia e Betim, também sustenta que as denúncias não procedem.

“O papel do gerente é fazer o atendimento de negociar valores. O dentista faz a avaliação, passa o plano de tratamento, e passa para o gerente negociar. Nenhum dos nossos funcionários faz atendimento com paciente. Todo o atendimento clínico é feito por dentistas”, disse ao BHAZ.

O gerente-geral diz que leva o assunto “muito a sério” e que não tem conhecimento para atuar como dentista.

“Para que eu fizesse a triagem de um paciente, eu precisaria estar pelo menos no sétimo período de odontologia. Eu não entendo nada de odontologia. Eu entendo de gestão de pessoas, de administração de franquia. Eu, fazer uma triagem com paciente, é um absurdo isso, não tem nada a ver”, completou.

Sorridents abre sindicância

A Sorridents tem mais de 500 clínicas em 21 estados do Brasil. A rede pertence ao Grupo Salus, que possui ainda as empresas GiOLaser, Olhar Certo, Amo Vacinas, Sorriden, Mais Sorrisos, Mira Hospital Ofalmológico e outros.

Em nota, a rede informou que instalou uma sindicância interna para a apuração dos fatos, que vão contra o código de conduta da empresa. “Os departamentos responsáveis já foram acionados para que as informações obtidas sejam checadas com urgência e as devidas providências sejam tomadas”, diz.

“Diante do exposto, tendo em vista que até o presente momento, a Sorridents está fazendo levantamento e checagem para averiguar a veracidade da denúncia”, finaliza o comunicado.

Veja a nota da Sorridents na íntegra:

Nota da Sorridents na íntegra

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