O dia 26 de setembro foi instituído como o dia do surdo por ser a data de inauguração do Instituto Nacional de Educação de Surdo (INES) em 1857, no Rio de Janeiro, que foi a primeira escola para surdos do Brasil. Em Sete Lagoas, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que exista uma comunidade surda de aproximadamente 300 pessoas.
Muitas delas estiveram presentes na Audiência Pública, realizada nessa quinta-feira (27), que debateu políticas públicas e demandas para inclusão e acessibilidade de pessoas com deficiência. A sessão foi requerida e presidida pelo vereador e presidente da Câmara Municipal, Cláudio Caramelo (PRB).
Para o parlamentar, é “importante ter sequência para ver o que avançou, ou não. A gente não pode deixar de discutir e de dar voz a todos os interessados. É de fundamental importância manter o assunto sempre em pauta”. A fala de Caramelo faz referência ao segundo ano consecutivo de realização do evento.
Representante dos cadeirantes, Arnaldo Divino, foi incisivo ao dizer que “é falta de respeito, invadem nossa vaga”. Divino disse ainda que “precisamos de políticas que falem sobre isso. Que seja falado para que as pessoas se eduquem. Muitas pessoas usam carros com adesivos de cadeirantes, mas são normais. Não é para ter dó, é para respeitar”, enfatizou.
Deficiente visual desde recém-nascida quando sofreu um descolamento de retina na incubadora, Natália Tavares, representou os deficientes visuais e defendeu que haja um pensamento de inclusão nas pessoas. “Falta mobilidade e inclusão para os deficientes visuais. Não há mobilidade e independência para atravessar a rua. A gente precisa esperar a boa vontade de alguém”, lamenta.
Tatiana Elisa é mãe de gêmeas autistas e também bateu na tecla da consciência da população para uma melhor qualidade de vida. “Nem toda deficiência é visível. É preciso consciência, mobilização. Vamos trabalhar juntos, fazer campanhas”, sugeriu. Ela também é mobilizadora social e administra um grupo chamado consciência e autismo.
Coordenador da atenção primária do município, Gabriel Salum, fez um compromisso “com esta Casa e com todos aqui de fazer o máximo para sempre buscar melhorias no atendimento. Maria Aparecida é psicopedagoga e representante dos intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Cidinha, como é conhecida, agradeceu “por vocês insistirem conosco. A gente fica muito feliz em participar”. Ela aproveitou para demandar que “as empresas contratem intérprete de Libras para as entrevistas. Somos a acessibilidade para os surdos”, completou.
Parte integrante do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, Adenílson Pinho, pediu para que os deficientes “possam participar do dia-a-dia da cidade”. Ele é funcionário público municipal e lamenta não conseguir chegar ao departamento pessoal por falta de acessibilidade.
O secretário municipal de Segurança, Trânsito e transporte, Wagner Oliveira, representou o prefeito Leone Maciel e não escondeu a satisfação em participar da sessão. “Estou muito tocado com tudo o que está acontecendo aqui, nesta noite. No cotidiano, muitas vezes, a gente não presta atenção”.
Questionado sobre vagas no estacionamento rotativo para deficientes, o secretário garantiu que “tem vagas, mas existe um porém, não há respeito. Tem um outro ferindo o direito de terceiros. Se eu criar mais mil vagas e não haver respeito, o problema vai continuar. Saio daqui muito mais sensível com a causa de vocês”, reforçou.
Marlem Mirely é mãe de filho autista e o marido é deficiente visual. Por terem uma deficiência não aparente ela expôs constrangimentos constantes ao estacionar o carro em vaga destinada a pessoas deficientes. “Como eles não apresentam uma deficiência fácil de ser vista escuto horrores quando paro o carro em vaga de deficiente e os dois saem andando”.
Apesar dos vários pontos de vista apresentados uma demanda foi feita por todos. A valorização do intérprete de Libras. Todos defenderam o profissional em tarefas rotineiras como instrutor de autoescola, nos exames de direção, no detran, e nos órgãos públicos para dar acessibilidade aos surdos.
Participação dos vereadores
Representante maior das pessoas com deficiência visual na Câmara, João Evangelista (PSDB) perdeu a visão na juventude e lamentou que “quando cheguei na cidade em 1994 não tinha nenhuma rampa na cidade, uma vergonha”. O vereador discorreu ainda sobre a falta de educação nos coletivos e sugeriu “que o motorista cobre de quem ocupa a cadeira de idosos e deficientes para que ceda o lugar. Que as propostas aqui apresentadas cheguem aos ouvidos das autoridades”, pediu.
Milton Martins (PSC) lamentou que existam obras que “mesmo depois de prontas não estão prontas. É preciso gastar mais milhões com adequações. As entidades e ONGs nos mostram como fazer mais com menos. Que o Executivo aprenda com isso. Vocês estão mostrando hoje que é preciso cobrar, sim”.
Pr. Alcides (PP) entende que a cidade é inviável para mobilidade “lamentavelmente”. O vereador reitera que “não é por falta de sugestões dos mais variados segmentos. É também uma deficiência na consciência”.
Propostas
No fim da sessão o presidente Caramelo disse que será uma “Luta diária e temos que eleger prioridades”. E a prioridade “zero”, de acordo com Caramelo, será um centro de referência. Outra proposta será convocar para uma campanha de divulgação e conscientização vários setores da administração.
Nesse sentido, o secretário Wagner colocou à disposição a estrutura do setor de educação no trânsito “para que a gente fomente uma campanha”, colocou.
Por fim, Caramelo afirmou que vai cobrar agilidade do Executivo para que Anteprojetos aprovados referentes aos temas apresentados sejam reenviados ao Legislativo como Projetos de Lei. O vereador falou também da realização de um curso de libras para servidores. “Mês a mês vamos avaliando tudo o que for acontecendo para sentir o que for avançando”, concluiu Caramelo.