Bebê de 3 meses de Ribeirão das Neves luta pela vida e aguarda vaga em UTI há 4 dias na Grande BH; a família tentou vaga em Sete Lagoas

“Espero que nenhum pai ou mãe passe por isso mais”, disse André Souza, pai de Lucas — Foto: ARQUIVO PESSOAL/ DIVULGAÇÃO

Um bebê de apenas 3 meses está correndo risco de morte há quatro dias, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, por não conseguir uma vaga em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) pediátrica em algum hospital da Grande BH. Internado desde a última sexta-feira (17 de março), o pequeno Lucas foi diagnosticado com bronquiolite viral aguda e pneumonia bacteriana. Ele teve que ser sedado e entubado, e agora vive uma incansável busca por um leito com mais equipamentos para sobreviver.

O pai do garotinho, o auxiliar de logística André Ângelo de Souza, de 28 anos, conta que o menino estava tossindo muito e chorando, o que fez com que ele e a esposa levassem a criança até o Hospital Municipal São Judas Tadeu. “Ele precisa da transferência com emergência, e os médicos do hospital estão ligando, se empenhando, mas não estão achando vaga de jeito nenhum. Enquanto isso, ele está na ala de emergência do hospital”, detalha.

O homem diz estar arrasado. “Já ligaram no JK, no Risoleta, no João XXIII, até em hospitais mais longe, Sete Lagoas, Contagem, e não tem vaga nenhuma. A gente quer o melhor para o nosso filho. A gente fica chocado, pois existem vários hospitais e está tudo lotado. E se essa criança morre?”, questiona Souza.

No início da noite desta terça-feira (21), a Secretaria de Estado de Saúde informou que a vaga de UTI para o menino Lucas havia sido disponibilizada.  “Em relação ao pedido de internação mencionado, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informa que a solicitação de transferência deste paciente foi atendida, com a tomada de todas as medidas cabíveis conforme a situaçãoEm atendimento à Lei Geral de Proteção de Dados, a SES-MG não informará nenhum dado adicional.A Secretaria esclarece, ainda, que, assim que um paciente é cadastrado no Sistema Estadual de Regulação Assistencial (SUSfácilMG), realiza-se uma busca por vagas nas unidades hospitalares em todo o estado que possam prestar o atendimento conforme a complexidade do tratamento necessário. Assim que a vaga é encontrada, é realizada a transferência imediata do paciente.A SES-MG esclarece ainda que as transferências ocorrem por meio de um fluxo regulatório estabelecido para os casos de urgência e emergência. A instituição de origem identifica a necessidade de transferência do paciente e procede com a solicitação no sistema, o que gera um laudo de solicitação a ser atendido pelas Centrais Macrorregionais de Regulação Assistencial”.

Segundo prefeitura, dois bebês aguardam vagas

A Prefeitura de Ribeirão das Neves informou que, na verdade, Lucas não é a única criança passando pela situação. Além dele, um outro bebê que não teve a idade divulgada também aguarda a liberação de uma vaga em outro hospital. Por nota, o município disse que a Secretaria Municipal de Saúde e a diretoria do Hospital Municipal São Judas Tadeu acompanham e trabalham “incansavelmente para a solução da situação”,

“Reforçamos que a secretaria municipal de saúde entrou em contato com vários hospitais públicos da capital, para realizar a transferência, mas recebemos negativa de todos. Devido à urgência, entramos com um pedido de intervenção do Ministério Público de Minas Gerais, por meio do promotor de justiça da saúde, Henrique Macedo, para agilizar a transferência dessas crianças”, completou o município.

O município destacou ainda que está preocupado em “preservar a vida das crianças e o respeito com os familiares”. “Enquanto estamos correndo atrás da transferência, temos um pediatra acompanhando 24h os dois casos e estamos lutando com todos os recursos que temos para salvar a vida delas. Inclusive, o secretário de saúde, Rodrigo Fonseca, está pessoalmente, junto a sua equipe, tentando resolver essa situação, já que precisamos realizar a transferência imediata”, finaliza a prefeitura.

Problema persiste há mais de 20 anos

O problema da saúde pública, com ausência de leitos especializados em Ribeirão das Neves, cidade que hoje tem mais de 300 mil habitantes, já existiria há mais de 20 anos. É o que conta o técnico de enfermagem e responsável pela ONG Amigos da Comunidade, Reinaldo Fagundes, de 43 anos.

Segundo ele, o caso de Lucas não é único, já que a lista de moradores do município aguardando procedimentos em hospitais de BH e região metropolitana é imensa. “O Hospital Municipal São Judas não tem estrutura, é de pequeno porte. É como se fosse um hospital de uma cidade interior, para 10 mil habitantes, atendendo cerca de 300 mil pessoas”, reclama.

Ainda conforme Fagundes, a população está cansada de lutar pela mesma coisa há tanto tempo. “Não faz sentido termos os mesmos problemas de 10, 20 anos atrás. O Lucas não é o único, tenho um senhor aguardando há muito tempo por uma cirurgia de hérnia, me liga toda semana. Tem uma senhora ficando cega pois não consegue a cirurgia de catarata. Tudo coisa que poderia ser feita na cidade, mas não temos estrutura para isso”,  protesta o técnico de enfermagem.

A Prefeitura de Ribeirão das Neves foi questionada sobre a falta de hospitais capacitados no município, porém, não se posicionou sobre este ponto.

Fonte: O Tempo

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