Recuperada da Covid, idosa de 101 anos deixa hospital em BH na véspera do Natal

Passada a angústia, a família espera agora que a idosa, nascida em Santa Luzia, na região metropolitana da capital, em 1919, se recupere completamente e possa, no próximo 13 de maio, chegar aos 102 anos com saúde e tranquilidade

Foto: Alex de Jesus / O TEMPO

Às vésperas do Natal, quando a humanidade renova, pelo amor e pela paz, a fé em dias melhores, a vitória de uma idosa centenária na luta contra COVID-19 reacende a esperança na batalha contra a pandemia.

Maria Auxiliadora Melo de Aguilar, de 101 anos, conhecida por todos como Lili, saiu nesta quinta-feira (24) do Hospital Mater Dei, no Bairro Barro Preto, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, após 12 dias de internação, sendo oito na Ala de leitos específicos para pacientes contaminados pelo novo Coronavírus.

Passada a angústia, a família espera agora que a idosa, nascida em Santa Luzia, na região metropolitana da capital, em 1919, se recupere completamente e possa, no próximo 13 de maio, chegar aos 102 anos com saúde e tranquilidade.

Depois de se preparar, em um banho caprichado, com ajuda da cuidadora Claudiane Nunes, 32, para o tão esperado dia, a artista plástica, expositora de quadros por mais de 35 anos na Feira Hippie, relaxou e saiu do hospital nesta quinta-feira (24), dormindo. “Ela nos deixa o exemplo de que não devemos, nunca, desistir. Agora, volta para o asilo curada, com saúde e alimentando-se bem”, comemora Claudiane.



A filha, a microempresária Naneth Aguilar, 58, recorda os momentos mais difíceis.  “Não podíamos visitá-la na Ala COVID. Eu ligava para ter notícias e quando ficava sabendo que a saturação tinha caído, tinha muito medo, cheguei a ficar três dias sem comer de tanta preocupação. Mas a fé em Deus não me deixou cair em desespero. Agarrei-me a Ele, fiz promessas e vamos poder levá-la de novo para casa. É muita felicidade, tempo de celebrar também”, ressalta.

O médico Luís Gustavo Trindade, responsável pela paciente, credita o sucesso do tratamento à precocidade da internação. Segundo ele, no Clara Lar, no Bairro Floresta, asilo onde a idosa reside, houve um caso positivo e testagem em massa. Com isso, a aposentada dos Correios foi encaminhada ao hospital com acometimento discreto do pulmão.



“Não adotamos nenhum tratamento alternativo, sabidamente ineficaz, como ivermectina ou hidroxicloroquina. Ministramos dexametasona, controlamos infecções e priorizamos hidratação e alimentação”, explica. “Estamos muito felizes, foi um presente de Deus. Quem estiver passando por isso, tenha fé, tenha esperança”, completa Naneth.

FUNCIONÁRIA PÚBLICA, ARTISTA PLÁSTICA E AMANTE DE BONECAS

Lili foi funcionária dos Correios durante grande parte da vida, e dividiu o árduo trabalho como gerente na estatal com o ofício de pintora e artista visual – coisa que ainda faz parte da vida da idosa. O trabalho dela foi exposto por 35 anos na Feira Hippie e em espaços na Praça da Estação, conta Naneth, com orgulho.



A idosa, explica a filha, desenvolveu demência durante o avançado da idade e, por isso, não sabe que foi infectada pelo coronavírus. Como sofreu com uma pneumonia em 2019, ela acredita que foi internada pelo mesmo mal neste ano. Contudo, a família tentou alertá-la sobre a pandemia, principalmente, fazendo paralelos com a gripe espanhola, que acabou no Brasil um ano antes de Maria Auxiliadora nascer.

“Todos falam com ela, que está tendo um vírus igual à gripe espanhola. Ela nasceu na época, diz que a mãe contava sobre como foi a pandemia, mas sempre esquece. Minha mãe tem demência, mas tem a memória boa. Reconhece todo mundo, pergunta por todo mundo. Teve quatro filhos, e fala até dos genros”, detalha a filha.

Além das artes e da carreira no serviço público, um dos amores de Maria Auxiliadora foi parte importante de sua recuperação no hospital – uma boneca com vestido rosa, com a qual dormia e viva abraçada na UTI. Logo após ser internada, a idosa, que sempre foi apaixonada com crianças e brinquedos, pediu à filha para que levasse a bonequinha para o hospital. Naneth obedeceu à mãe, e deixou o brinquedo na portaria, para ser entregue depois de esterilizado pela equipe de sáude.



“Ela sempre gostou de criança. Ela brinca que é a filhinha dela mais nova, mas sabe que é uma boneca, claro. Minha mãe tem um carinho muito grande por elas. Toda vez que íamos a uma loja que tinha os brinquedos, ela comprava um. Essa, (que a acompanhou durante a internação) foi uma delas. Ela me pediu, fui à a casa de repouso, peguei, e deixei no hospital”, lembra.

“FIZ PROMESSA NA IGREJA”

Os 12 dias de internação de Maria Auxiliadora causaram extrema preocupação e angústia na família, mas a fé teve um papel importante durante esse período, afirma Naneth.

“Quando deram a notícia de que ela havia sido infectada, pensei: ‘acabou’. Se gente nova morre de Covid-19, imagina alguém com mais de 100 anos? Fiz uma promessa na igreja, e, agora tenho que voltar para fazer um testemunho. Graças a Deus, minha fé fez com que ela saísse desse”, diz a filha, aliviada.



“MINHA MÃE NÃO AGLOMEROU”

Apesar da recuperação de sua mãe, Naneth ressalta a importância das medidas sanitárias para conter a pandemia, e se diz especialmente preocupada com a transmissão causada pela população mais jovem que, em geral, é assintomática para a doença.

COMPARTILHAR

SEM COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA