Estudo mostra elevada presença de metais no organismo de moradores de Brumadinho

Mais da metade dos adolescentes de Brumadinho, município da região Central de Minas Gerais, está com níveis de manganês acima do limite no sangue após o rompimento da barragem da Vale. A concentração de outros metais no organismo, como arsênio e chumbo, também é elevada em adultos, crianças e adolescentes que vivem na cidade.

É o que mostra um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A pesquisa, realizada com 3.297 participantes de todas as regiões de Brumadinho, avalia as condições de saúde dos moradores do município depois do rompimento da barragem de rejeitos de Córrego do Feijão, em janeiro de 2019.

Os resultados da primeira etapa do estudo acabam de ser divulgados e evidenciam, também, os impactos na saúde mental da população.

Saúde mental e doenças crônicas

Entre os adultos de Brumadinho, 22,5% tiveram diagnóstico para depressão. O número é duas vezes maior do que a média brasileira, calculada em 10,2% entre os maiores de 18 anos, na Pesquisa Nacional de Saúde feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019.

Já ansiedade ou problemas do sono chegam a afetar mais de um terço dos entrevistados adultos do município mineiro.

Bronquite asmática e asma são frequentes entre as doenças crônicas relatadas pelos adolescentes ouvidos na pesquisa. O percentual aumenta quando é dividido por regiões. Em localidades diretamente expostas aos rejeitos da barragem, como Córrego do Feijão e Parque da Cachoeira, os problemas são realidade para 17,1% e 23,8% dos entrevistados.

Além disso, 49% dos responsáveis por crianças em Brumadinho observaram alterações na saúde dos pequenos após o rompimento. As principais delas estão ligadas a mudanças na pele, alergias respiratórias e outros problemas relacionados – especialmente nos locais mais próximos fisicamente da barragem.

Pesquisa

O estudo da Fiocruz e da UFRJ leva o nome de “Programa de Ações Integradas em Saúde de Brumadinho”. Dos 3.297 participantes, 217 são crianças, 275 adolescentes (entre 12 e 17 anos) e 2.805 adultos.

A análise é longitudinal; ou seja, continua ao longo dos próximos anos. A primeira etapa, concluída e divulgada agora, começou em julho de 2021. Há outras fases previstas pelo menos para 2022, 2023 e 2024.

Parte dos resultados é obtida por meio de exames de sangue e urina de todos os participantes. Os procedimentos são para identificar a dosagem de metais no organismo dos envolvidos. Os pesquisadores também entrevistaram os moradores para mapear os demais aspectos relacionados à saúde.

Compensação

A reportagem de O TEMPO questionou e aguarda retorno da Vale sobre estudos e medidas compensatórias voltadas à saúde da população de Brumadinho, em aspectos gerais.

A mineradora também foi perguntada sobre a alta dosagem de arsênio, manganês e chumbo no organismo dos moradores e sobre como ocorre a exposição a esses materiais, se é por inalação, consumo de água e alimentos contaminados, ou por outras formas.

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