PCMG registra mais de 490 cadastros de desaparecidos em Brumadinho

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) já contabiliza 492 cadastros de familiares de desaparecidos na tragédia do rompimento da Barragem de Córrego Feijão, em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O cadastro auxilia a PCMG a agilizar o processo de identificação de vítimas junto ao Instituto Médico Legal (IML) na capital. O número de cadastros, contudo, não é absoluto, uma vez que a Polícia Civil ainda processa possíveis duplicidades de registro de familiares distintos de um mesmo desaparecido.

Desde este sábado (26), mais de cem servidores da Polícia Civil de diversos Departamentos e regiões do Estado, muitos deles voluntários, trabalham 24 horas na Academia de Polícia Civil (Acadepol), onde os familiares dos desaparecidos estão sendo encaminhados e acolhidos para a realização de uma triagem que pode acelerar a identificação das vítimas. O trabalho continua por este domingo (27), e os parentes devem apresentar nome, data de nascimento, idade, CPF, carteira de identidade e foto (se existir) da vítima. Aos que se encontram longe da capital, as informações podem ser repassadas pelo e-mail [email protected]

De acordo com a Diretora da Acadepol, Delegada-Geral Cinara Maria Moreira Liberal, esse atendimento está sendo feito com a maior humanização possível. Trabalhamos em conjunto com a Secretaria de Estado de Saúde que disponibiliza em parceria com instituições de ensino profissionais capacitados em psicologia e assistência médica para melhor atender os parentes. Além disso, nossos policiais estão preparados para tratar com o maior cuidado os familiares na confecção desses cadastros, porque sabemos que essas pessoas estão passando por um sofrimento muito grande neste momento, afirmou.

A Delegada destaca, ainda, a importância dos parentes repassarem o maior número de dados e detalhes para acelerar o trabalho de reconhecimento das vítimas. Quanto mais informações os familiares puderem repassar, como características físicas marcantes tatuagens, piercings, fotografias são de extrema relevância para auxiliar o IML.

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A estudante de Belo Horizonte, Gabriele Pizzani, de 25 anos, compareceu à Acadepol para realizar o cadastro. Ela procura por informações do primo e da esposa dele. Ambos estavam em Brumadinho no momento do rompimento da barragem. Nós parentes ficamos muito assustados com a notícia e apreensivos demais para saber principalmente quais os primeiros passos a tomar para ter alguma informação. Fui encaminhada diretamente à Acadepol, onde fui muito bem acolhida pelos policiais e profissionais de saúde. Agora é aguardar, disse emocionada.

O mesmo drama é vivido por Inês dos Anjos, 58 anos, moradora de Várzea da Palma, no Norte de Minas. Ela chegou no sábado pela manhã à Acadepol para realizar o cadastro da sobrinha de 14 anos. A garota estava com a mãe e outra tia na residência delas, que ficava a cerca de duzentos metros de onde uma pousada foi inundada pelos rejeitos. Ambas as mulheres foram socorridas com vida, mas ainda não há informações sobre a adolescente. Minhas irmãs relataram cenas terríveis do momento do desastre. Uma delas conseguiu se socorrer agarrando-se a uma árvore do lado de fora da casa. A minha sobrinha infelizmente estava dentro da residência, mas ainda temos fé de que saberemos o que aconteceu com ela, contou.

O Superintendente de Polícia Técnico-Científica da PCMG, médico-legista Thales Bittencourt de Barcelos, explica que essa triagem já está abastecendo um banco de dados da Polícia Civil específico para a situação de emergência, que serve como conexão entre o Instituto de Identificação e o IML.

Conforme enfatiza Bittencourt, a Polícia Civil está fazendo todo o esforço necessário para conseguir uma rápida identificação das vítimas, em vista do sofrimento dos familiares, sem contudo ferir os devidos protocolos médico-legais de modo a garantir a precisão das perícias. É muito importante dizer que, nesse tipo de evento, os corpos das vítimas podem chegar ao IML com múltiplas lesões, o que pode dificultar a celeridade da identificação, destaca.

Ainda de acordo com o Superintendente, a Polícia Civil está seguindo os três passos fundamentais para a identificação: a papiloscopia (comparação das digitais), a perícia odonto-legal, que realiza exames na arcada dentária, e também é colhida uma amostra de material genético dos corpos para eventual exame de DNA. Durante esta semana as famílias poderão ser chamadas para comparecer à Acadepol para coleta de material para exame de DNA e entrega de documentos médicos, como radiografias, adiantou.

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