Família aguarda cinzas do primeiro sete-lagoano morto pelo coronavírus; Dado não consta no boletim da cidade

Foto: Arquivo pessoal da família

Para as estatísticas que revelam o triste cenário da pandemia no Brasil é só mais um. Mais um que se soma a outros 12,4 mil. Esse é o número de vidas que já foram perdidas em decorrência da pandemia do coronavírus no país, até o início desta quarta-feira (13). Infelizmente até o dia de hoje terminar essa curva será ainda maior com mais famílias destruídas.

O que os gráficos não mostram, porém, é que atrás dos números existem abraços que deixaram de ser dados, sorrisos que ficaram pelo caminho e histórias que foram interrompidas, sem sequer a possibilidade de um funeral ao lado dos familiares. Uma delas é a de Expedito Eustáquio, 65 anos, morador do bairro Progresso, em Sete Lagoas. Ele é mais um que entrou para a estatística ao ter a vida ceifada por complicações causadas pela covid 19. A idade e doenças pré-existentes o colocaram no grupo risco para a doença.

O caminhoneiro saiu para trabalhar, ainda em Fevereiro, e não voltou para casa. Foi encontrado pela família, depois de muita procura, em um hospital na cidade de Araguaína, interior do Tocantins. Diagnosticado com a doença causada pelo coronavírus, Expedito não resistiu e morreu no último domingo (10). Ele é o primeiro sete-lagoano a perder a vida por conta da pandemia.

Apesar da internação em outro estado, a morte deveria constar no registro de Sete Lagoas, mas a atualização não aconteceu até a divulgação do boletim apresentado na terça-feira, (12). A secretaria de Saúde da cidade se justifica. “Qualquer resultado somente é incluído no boletim após uma notificação formal. Essa notificação pode ser feita pelos laboratórios particulares, pela Funed ou pelas secretarias de saúde de outros estados ou municípios”, explicou o secretário da pasta, Flávio Pimenta. Mas isso, para as famílias devastadas, pouco importa.

Neste momento, diante da flexibilização no comércio e do afrouxamento das medidas de isolamento social na cidade, a filha de Expedito faz um desabafo. “Me sinto na obrigação de alertar a população por tudo o que aconteceu. Só a gente que sofreu na pele tudo o que a gente vê na TV, que é real, que sabe. Dói muito a perda”, afirma Leandra França. A filha do caminhoneiro não titubeia ao pedir que as pessoas se conscientizem e fiquem em casa mantendo todas as medidas preventivas possíveis.


Mas o pior, de acordo com Leandra, é a sensação de impotência por não poder ao menos organizar uma despedida digna para o pai com quem falou pouco, por telefone, dias antes da morte. “Nós não podemos trazer o corpo do meu pai para ser sepultado em Sete Lagoas. Ele teria que ser enterrado meia hora depois do óbito lá em Araguaína. Não deixamos e a única forma que trazê-lo de volta foi a cremação e fizemos essa opção”. A família aguarda agora, nos próximos dias, os restos mortais para uma despedida.


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