Como a ECMO salvou da Covid um adolescente em tratamento oncológico em BH

“Foi um milagre.” O advogado Celso Vieira de Lima, de 49 anos, só consegue pensar na definição para explicar o que aconteceu com o filho dele. Aos 14 anos, e lutando contra um tumor no cérebro há três, Vinícius Brandão Souza Lima foi diagnosticado com Covid-19 em abril deste ano quando o tumor já estava em remissão. Depois de passar três meses no hospital, dos quais dez dias foram com ECMO, Vinícius está bem e celebra seu 15º aniversário nesta sexta-feira (13) em casa com os pais no bairro Cidade Nova, região Nordeste de Belo Horizonte.

Celso conta que, em abril, depois de finalizar um ciclo de quimioterapia em um hospital, o garoto desmaiou em casa. Depois de ser levado às pressas para o hospital Mater Dei, o advogado descobriu que o menino tinha apenas 40% de oxigenação no sangue – abaixo dos 94% já exige atenção.

Os médicos levaram-no para a UTI Covid-19 ainda antes do diagnóstico, mesmo sob os protestos de Celso. “Ele não tinha febre, não tinha qualquer sintoma”, lembra. Mas a baixíssima saturação de Vinícius exigia o protocolo, e o adolescente foi intubado logo na primeira noite de internação. Durante oito dias, e estando semi-sedado, ele respirou com a ajuda de um ventilador.

Terminado esse tempo, mais um baque: Vinícius sofreu uma parada cardiorrespiratória. “Foi doído”, conta Celso sem conter as lágrimas. Depois de realizar uma manobra que trouxe o adolescente de volta à vida, os médicos chamaram o advogado para dizer que o pulmão do garoto não aguentava mais e que era hora de usar a ECMO – sigla em inglês para Oxigenação por Membrana Extracorpórea, que funciona como uma espécie de pulmão artificial quando o órgão está prestes a perder suas funções.

Tratamento

Ao ouvir o termo, Celso logo se lembrou de Paulo Gustavo, que foi submetido ao tratamento depois de contrair a Covid-19. O ator morreu em 4 de maio deste ano, depois de lutar contra a doença por mais de 50 dias. O advogado levou um susto, mas foi confortado pela cardiologista pediátrica da Rede Mater Dei e diretora da ECMO Minas, Marina Fantini.

“Tivemos uma equipe da CTI pediátrica muito atenta a todas as mudanças clínicas que o paciente apresentava. O Vinícius entrou na terapia de forma precoce, sem que o pulmão estivesse totalmente comprometido e a participação dele foi fundamental. O paciente entendeu o que estava acontecendo e contribuiu com o tratamento”, afirma a médica.

Sobre entender o que estava acontecendo, a especialista foi literal. Vinicius passou por todo o tratamento acordado e, apenas duas horas depois de ter sido submetido à ECMO, o adolescente já viu sua gasometria voltar aos índices considerados normais para o alívio de todo.

“A equipe foi tão bacana e cuidou tão bem da gente”, agradece Celso que se lembra de um caso curioso. Depois de ver o paciente estabilizado, a médica Marina autorizou que o menino pudesse escolher algo para comer, e “ele quis Fandangos”, recorda Celso com um sorriso. Nesse ínterim, o jovem conseguiu realizar outras atividades também, como escovar os dentes.

Passados os dez dias, e com melhora sistemática das funções do pulmão acompanhado diariamente com raio-x, Vinícius pôde, enfim, sair da ECMO. O coordenador da UTI pediátrica do Hospital Mater Dei Contorno, Luís Fernando Andrade de Carvalho, explica que a técnica da terapia extracorpórea é semelhante em adultos e em crianças.

“O que difere é o tamanho das cânulas utilizadas e os parâmetros. O acompanhamento de equipe especializada em ECMO e da equipe de intensivistas pediátricos é fundamental para reduzir as complicações da terapia e aumentar as possibilidades de sucesso. A utilização da ECMO nesse paciente ainda teve um fator de maior sucesso que foi a possibilidade de mantê-lo fora da ventilação mecânica e acordado, utilizando a ECMO e aguardando a melhora do quadro pulmonar.”

Recuperação

Vinicíus passou mais três meses no hospital para se recuperar completamente. E hoje, além do seu aniversário, ele e a família tem mais um motivo para comemorar. Depois de passar por uma cirurgia invasiva em janeiro deste ano porque o tumor o tronco encefálico e travar uma árdua luta contra a Covid-19, ele recebeu alta da quimioterapia nesta semana.

Celso ainda está em dúvida sobre sua organização do dia, já que sua rotina consistia em acordar às 6h e acompanhar o garoto durante todo o dia nas sessões de quimioterapia, mas de uma coisa tem certeza: está mais feliz do que nunca com a recuperação do filho.

 

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