Famílias terão de ser ‘fiscais da vacina’ em festas de fim de ano

O segundo Natal da pandemia chega em um cenário epidemiológico mais favorável do que em 2020, com todos os indicadores mais baixos graças ao avanço da vacinação contra a Covid-19 no Brasil. Especialistas concordam que é possível fazer um encontro de família relativamente seguro neste momento, mas ainda com atenção a cuidados básicos e, principalmente, à vacinação de todos os convidados. Fora do controle das autoridades de saúde, será a vez de a própria família assumir o papel de “fiscal da vacinação”.

“É imprescindível que, neste momento, as pessoas não se sintam intimidadas a não perguntar sobre a vacina. Elas precisam estar empoderadas para defender a própria saúde e a de seus familiares. É rotina perguntar o que cada um vai levar para comer no Natal, e agora vai ser rotina perguntar sobre a confirmação de vacinação”, pondera a epidemiologista Denise Garrett. Uma cartilha de recomendações da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgada neste mês, também reforça que a vacinação é pré-requisito para os encontros, neste momento.

Mesmo com a ampla aceitação da vacina no Brasil, diferentemente dos Estados Unidos e de alguns países da Europa, famílias ainda enfrentam a resistência de alguns parentes em se vacinar e já se preocupam com as festas de final de ano. “Minha família é pequena, então quer se encontrar. Eu tenho um primo totalmente negacionista, que não se vacinou e nem vai, mas não se discute a possibilidade de ele não ir às festas de final de ano, porque é como se a família viesse em primeiro lugar, mesmo que minha mãe e a mãe dele sejam de grupo de risco. É muito egoísmo dele. Nos encontros de família, eu sou a única que fica de máscara e me sentindo insegura”, relata uma arquiteta de 27 anos que pediu para não se identificar.

A neuropsicóloga e psicóloga clínica Rosana Lucas lembra que o Natal é uma época de emoções à flor da pele, por isso recomenda cautela na abordagem aos parentes. “O melhor é falar em grupos sobre a vacinação, e não com pessoas específicas, para não ser fiscal de uma só pessoa, mas do grupo todo. E precisamos ter uma habilidade de escorregar: você pode não convidar a pessoa que não se vacinou e dizer que, neste ano, fez apenas uma reunião pequena, para poucas pessoas”, aconselha.

Festa na área externa ou em ambiente ventilado reduz risco

No cenário ideal, os convidados das festas de final de ano só retirariam a máscara para comer, especialmente se há alguém idoso ou com comorbidades no grupo, porém especialistas não têm ilusão de que isso será feito na prática. Nesse cenário, a maior dica que dão é favorecer uma boa ventilação do ambiente e, se possível, realizar as festas ao ar livre.

O tempo chuvoso típico do final do ano em algumas regiões também exige planejamento, pontua o pesquisador da Universidade de Vermont e membro do Observatório Covid-19 BR Vitor Mori. “É possível colocar um ventilador em frente às janelas para fazer troca de ar com o meio externo, por exemplo. E é necessário já ter um planejamento para o plano B se chover, com um toldo ou algo do tipo para a área externa, ou todo o planejamento de fazer a festa segura em local externo acaba e as pessoas acabam todas indo para ambiente fechado, sem medidas de proteção”, diz.

“As pessoas que têm maior risco de doença grave precisam ser mais protegidas. Se possível, elas devem usar máscara, manter o distanciamento e ficar próximo a janelas e portas, onde a troca de ar é mais intensa”, complementa o infectologista Unaí Tupinambás, membro do comitê de enfrentamento à pandemia da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).

Festas em bares e clubes também não são necessariamente mais arriscadas do que em casa, caso sejam em locais arejados e os convidados limitem as interações a pessoas do seu círculo e convivência. “Um evento na beira da praia, com meu círculo de pessoas vacinadas, tudo bem. Mas eu não correria o risco de ir a um restaurante fechado de maneira alguma”, completa a epidemiologista Denise Garrett.

Para as viagens de fim de ano, o ideal são percursos curtos que não demandem ônibus ou avião, mas, caso sejam passeios mais longos, o ideal é escolher uma máscara com alto poder de proteção, especialmente em meio à possível disseminação da variante ômicron. “Eu viajo com uma máscara PFF2 e não tiro em lugar nenhum dentro do aeroporto, sequer como no aeroporto. Uma regra simples que as pessoas podem utilizar é não compartilhar o ar. Se estiver em ambiente fechado, use a máscara”, continua Garrett.

Convidados com sintomas gripais devem ficar de fora da festa

Casos de suspeita de Covid-19 devem ser testados antes da festa e até os sintomas gripais mais leves podem acender o alerta, ressalta o membro do Observatório Covid-19 BR, o pesquisador Vitor Mori. Mesmo com teste negativo para a doença, ele sugere que os sintomáticos não participem de eventos.

“Se a pessoa estiver com sintomas de doença respiratória, eu sugeriria que não participasse, de qualquer forma, porque até no caso de uma gripe não me parece razoável expor outras pessoas. Uma gripe também não é trivial”, conclui.

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